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O Tratado da Organização do Atlântico Norte, mais conhecido como NATO, celebrou 75 anos na mesma sala em que foi assinado, em 1949, o texto original.
Desde esse tempo, entretanto, aconteceram muitas coisas no Mundo. Em primeiro lugar, a afirmação de uma organização militar cuja principal vocação continua a ser a prevenção e a aliança entre os seus membros conforme o seu artigo 5.o determina,
Depois, a vitória na Guerra Fria, em 1989, perante a outra potência nuclear, a União Soviética.
Ocorreu entretanto o crescimento de uma organização que começou com 12 estados-membros, entre os quais Portugal, então uma ditadura e cuja exceção de participação se justificava pela realidade geopolítica. Hoje, são 32 estados-membros, entre os quais muitos que estiveram no rival Pacto de Varsóvia.
Ao celebrar o seu 75.o aniversário, a Aliança entra um mundo mais perigoso, que se prepara para viver uma nova ordem geopolítica e militar, que nada tem já a ver com a que saiu do final da II Guerra Mundial.
Hoje, para a aliança militar, o novo eixo do mal já não envolve só o Irão ou a Coreia do Norte. Implica também olhar de uma outra forma para a Rússia de Putin e para o uso agressivo do soft-power da China de Xi Jinping. O recurso a uma certa forma de fazer a guerra já não passa só pela agressão militar, como no caso da Ucrânia, que ficou à porta do salão de festas da NATO, mas vai mais longe e entra no domínio da economia, como já faz a China. A iniciativa “One Belt and One Road” sofreu alguns atrasos no plano europeu e virou-se de uma forma consolidada para África, onde ainda recentemente a Guiné-Bissau e São Tomé e Príncipe assinaram acordos bilaterais.
A Aliança que tão bem tem estado no apoio à Ucrânia e que recuperou da morte cerebral que preocupava o presidente Macron prepara-se para um ciclo com a entrada do novo secretário-geral, Mark Rutte. Será o ciclo onde as democracias estarão mais fracas, como as recentes eleições em França ameaçaram e as eleições presidenciais dos Estados Unidos deixam antever.
A Aliança quer expandir-se para outras geografias, mas internamente revela contradições personificadas em Orbán e Erdogan. A debilidade de Biden e o atentado a Trump acabam por promover o caldo de cultura que vai alimentar esta mudança no plano da geopolítica mundial.
A eventual vitória de Donald Trump pode alterar todo este quadro, que vai obrigar os aliados europeus a um maior investimento nas políticas de defesa. A boa novidade é que a Grã-Bretanha, na liderança de Keir Starmer, o novo primeiro-ministro trabalhista, parece querer regressar a um protagonismo já esquecido.