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Alexei Navalny morreu. Envolto em muitas dúvidas sobre as causas da sua morte, o ativista russo e oposicionista a Putin morreu, lá bem longe, num gulag, na Sibéria.
Lembro-me de ler, ali pelos meus 16 anos, o célebre livro de outro resistente, Alexander Solzhenitsyn, intitulado “O arquipélago do gulag”, cujo título lhe valeu o Prémio Nobel da Literatura, em 1970, e onde relatava a sua experiência no ambiente prisional, na União Soviética, desde os tempos de Estaline. Recordo ainda as minhas dúvidas sobre se aquela crueldade e sadismo seriam possíveis, naquele regime político para com quem só tinha uma opinião diferente.
Navalny, por razões pouco compreensíveis, quis regressar à Rússia depois de te escapado, a mando da liderança russa, a uma tentativa de envenenamento. Estava convicto que a sua morte acabaria por representar a força e o perigo do seu movimento para Putin. O medo impera na sociedade russa e os casos inexplicáveis aumentam. Foram muitos os oligarcas russos a caírem das escadas ou a suicidarem-se pelas janelas dos hospitais. Foi também o caso do líder do grupo Wagner, Yevgeny Prigozhin, cujo helicóptero foi abatido semanas depois de ter iniciado uma marcha contra Moscovo.
Num ambiente que prepara umas novas “eleições” presidenciais, o sistema político russo transformou-se numa confusão de crimes, a exemplo de regimes opressivos como os de Estaline ou Hitler.
Desta forma estamos a falar de sociedades fechadas em permanente luta com as nossas sociedades abertas. A este propósito Karl Popper escreveu um livro que chamou mesmo “A sociedade aberta e os seus inimigos” e nele procurava mostrar-nos o aspeto perverso das ditaduras.
No nosso tempo parece mais avisado falarmos de sociedades fechadas, como a russa, onde impera a censura e a perseguição política. A colocação de flores de homenagem a Navalny faz lembrar os cravos da nossa revolução, ou em 1989, a Revolução de Veludo em Praga.
A sociedade aberta é a sociedade que permite a liberdade de expressão, assume o ideal tradicional do liberalismo económico e político. Algo que não existe nessas sociedades fechadas onde impera o capitalismo de Estado e a indústria de guerra.
Navalny, com o seu exemplo de sacrifício, faz lembrar Jan Palach, que se imolou contra a invasão soviética, em Praga, em 1968. São estes exemplos que nos ajudam a lutar contra os regimes que não respeitam os direitos humanos e nos recordam a necessidade de não deixar de dar luta aos populistas cuja única política assenta na demagogia de que tudo é possível mesmo perder a guerra na Ucrânia e, dessa forma, a liberdade daquele povo.

