O desejado "regresso à normalidade" não pode alimentar, nem justificar a ilusão de um "regresso ao passado", puro e simples. Depois da pandemia, quase nada será como dantes.
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A experiência da covid-19 (traumática, nalgumas dimensões; criativa, noutras) alterou profundamente comportamentos sociais, de interação e de consumo, modelos de trabalho e produtivos. É disso exemplo a familiaridade adquirida pela maioria do portugueses com os nomes Zoom, Skype ou Teams e com outros serviços de conferência remota, com soluções logísticas de delivery ou com o contactless associado aos pagamentos, e não só.
Neste contexto, o Fórum Económico Mundial identificou dez tendências pós-covid-19 que marcarão o futuro da economia global. Nessas tendências destacam-se as compras on-line e os pagamentos digitais sem contacto, o trabalho remoto, a aprendizagem à distância; a impressão 3D, a robótica e o recurso aos drones; a inteligência artificial, a realidade aumentada e mista, bem como o 5G e outras soluções de comunicações.
Esta transformação digital tem uma grande correspondência no processo de "reindustrialização" que queremos transformar em oportunidade - desafio a que uma grande região industrial europeia como o Norte não pode fugir. O futuro não é adiável e radica nesta revolução digital, que impõe novos processos de pensar e consumar a produção de bens e serviços, bem como das suas conectividade e logística.
O último ano evidenciou que as empresas que tinham uma maior maturidade e orientação digitais foram capazes de enfrentar melhor a crise e de responder a este contexto adverso, reforçando a posição nos mercados internacionais.
É também por este motivo que o PRR e o futuro Portugal 2030 se devem empenhar na transformação digital da indústria - o mesmo deve acontecer com a base produtiva da Região Norte e o reconhecimento do seu "sistema regional de inovação". O futuro de setores especialmente relevantes para a nossa economia exportadora e emprego qualificado, como o automóvel, a moda, o habitat ou a construção, dependem desse salto em frente.
Este desafio maior do nosso futuro coletivo cruza-se com um outro inadiável - o da sustentabilidade, que só pode ser vencido por uma transição ambiental e energética da indústria. Também aqui há uma contagem decrescente em marcha e as tecnologias digitais têm igualmente grande centralidade.
A Região Norte, que historicamente soube ser o permanente motor de futuro do país, estará à altura de interpretar estes novos e exigentes desafios.
*Presidente da CCDR-N