Nos últimos dias o país viveu com ansiedade a polémica dos custos de construção de um altar para Sua Santidade o Papa Francisco celebrar, em Lisboa, no âmbito da Jornada Mundial da Juventude, a missa solene.
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Portugal acordava, assim, para este assunto como se fosse a primeira vez na sua abordagem.
Acima de tudo esta circunstância ajuda-nos a trazer ao debate alguma da hipocrisia do poder em cuja armadilha estamos, todos os dias, a cair.
Com efeito e depois de se ter conseguido levar a conversa de café para o debate parlamentar, os nossos responsáveis políticos parece não se entenderem e não saberem assumir os custos da Jornada Mundial da Juventude. Quer o presidente da República, quer o presidente da Câmara de Lisboa, entre outros, ou mesmo a Igreja portuguesa, todos deveriam estar à espera que este encontro mundial, que traz o Papa Francisco a Lisboa, tivesse um custo previsto no respetivo orçamento de candidatura.
Não estamos agora a questionar se é muito ou pouco, se vai ser aplicado noutros eventos ou se vai resultar na reabilitação urbana de uma zona degradada.
O que nos parece que deve merecer a nossa reflexão e preocupação tem a ver com a dignidade institucional e com a atitude dos seus representantes. Esta banalização de tudo se comentar, ou merecer uma posição improvisada num qualquer lugar, está a provocar um desgaste imenso em todos aqueles que, ocupando funções institucionais, precisam de saber escolher o seu momento para falar com credibilidade.
Portugal decidiu apresentar a sua candidatura à organização da Jornada Mundial da Juventude. Estamos convictos que esta candidatura foi pensada e articulada entre os órgãos de soberania do Estado e da Igreja Católica portuguesa. A mesma saiu vencedora e essa vitória foi assinalada com muito foguetório e júbilo de muitos de nós.
Então, onde está o problema? Estamos, provavelmente, numa dinâmica onde é mais fácil dizer mal e avaliar sempre de uma posição negativa qualquer tipo de iniciativa.
Assim sendo, estamos a contribuir de modo consciente para o desgaste das instituições e a permitir a emergência de projetos pessoais cujo extremismo político nunca reforça as instituições democráticas.
Esta polémica acabou por permitir ao Governo escapar dos casos e casinhos que tinha vindo a viver nas últimas semanas. Afinal, há males que vêm por bem porque conseguiu fugir ao protagonismo negativo.
Apetece chamar a nossa poetisa Sofia e com ela dizer, também, "com fúria e raiva acuso o demagogo e o seu capitalismo das palavras".
*Professor universitário de Ciência Política