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2024 apresenta-se como o ano de todas as eleições pois, das mesmas, podemos vir a retirar algumas ilações complexas quer no plano interno quer no plano internacional.
Começamos por Taiwan onde a vitória dos partidários da independência abre um sinal de alerta para a China. Pese embora não ser uma vitória muito fácil, aliás alguns setores próximos da linha oficial têm procurado salientar este aspeto, não deixa de abrir uma brecha na narrativa que Pequim pretende impor na ideia da reunificação da grande China até 2049.
Ao mesmo tempo teremos eleições presidenciais na Rússia e nos Estados Unidos. Se para Putin será um mero cumprir de calendário já para Trump e Biden vai implicar eleições primárias e, só depois, o sufrágio final. Acontece que ambas as eleições terão um impacto significativo na geopolítica mundial. As russas porque vão consagrar a linha política de agressão de Putin e as americanas porque irão evidenciar a crise demográfica da sua liderança e podem implicar um eventual regresso de Trump à Casa Branca.
Na Europa vamos ter eleições para o Parlamento Europeu onde tudo aponta para um crescimento dos partidos nacionalistas e populistas. O que não deixa de ser mais um contrassenso para quem quer ser eleito para cumprir uma agenda europeia.
Por cá teremos eleições regionais nos Açores, legislativas em março e, depois, as europeias. Não deixará de ser um grande teste às lideranças nacionais do PS e do PSD.
Com uma estratégia assente no crescimento do Chega, o PS acaba por criar as condições para que as eleições legislativas provavelmente venham a acabar numa nova crise política sem maiorias parlamentares coerentes e estáveis.
Este quadro eleitoral vai permitir desenvolver alguns riscos dos quais o mais gravoso será o da contrainformação ou da desinformação.
Ainda agora em Davos, no Fórum Económico Mundial, ao lado da inteligência artificial aparece a desinformação como um dos maiores problemas na solidez dos sistemas democráticos. O princípio de “um homem, um voto” faz todo o sentido para as sociedades liberais e o Estado de direito onde nos inserimos. Mas, se esse voto for condicionado por circuitos de informação falsa, como muita da que circula nas redes sociais, os resultados eleitorais correm o risco de não representarem o real sentido do voto. Já Goebbels dizia que uma mentira muitas vezes repetida se tornava uma verdade. Esse será talvez o maior desafio dos nossos tempos. As transformações sociais assentes em ciclos de inverdade que depois de promovidas pelas redes sociais se transformaram em absolutas realidades são o grande risco destes tempos. Não podemos esquecer a possibilidade de eleições no Reino Unido, que podem trazer o fim da hegemonia do Partido Conservador.