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O barulho é grande: guardas e polícias queixam-se, bombeiros arreliam-se, agricultores protestam, médicos e enfermeiros reclamam, a Justiça, veloz e furiosa, detém políticos e meliantes de alto coturno... Assim de repente, dá a impressão que Portugal se transformou num sítio pouco recomendável, incapaz de se governar e difícil de ser governado. Este lado sombrio tem, curiosamente, um lado lunar: estão a bater certo as contas da economia e é descendente a trajetória da dívida, coisa que não é de somenos. Eis o pano de fundo em que se discute o futuro do país e os prós e contras dos que se propõem liderar os indígenas.
À data, Luís Montenegro parece ter cruzado o Rubicão. O que é uma boa notícia, independentemente dos méritos próprios e das circunstâncias alheias. Goste-se, ou não, da figura, apreciem-se, ou não, as ideias do líder social-democrata, dá muito jeito poder, finalmente, olhar para Montenegro sem lhe notar a alma enrugada e o estilo atrapalhado, sem o sentir confuso no caminho e titubeante nas escolhas e soluções.
Os astros não estão ainda todos alinhados (e pode acontecer que não venham mesmo a alinhar-se, se o elevado número de indecisos não estiver para aí virado), mas é da mais elementar justiça reconhecer que o líder do PSD está em crescendo. Sendo (também) tributária da mochila pesada que Pedro Nuno Santos carrega, a linha ascendente de Montenegro tem uma consequência nada desprezível: separa as águas e facilita a escolha. O que, dado o barulho que se ouve, não é coisa pouca. Resta saber se, até ao momento do depósito do “votinho”, como lhe chama o presidente da República, o líder do PSD será capaz de manter o tom e o ritmo sem cometer erros tão básicos como o de querer fazer substituir-se em certos debates pelo vocal Nuno Melo...