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A notícia acabou por correr mais célere do que a própria vitória da seleção espanhola feminina de futebol no último Mundial. Acabou, mesmo, por rivalizar com a morte de Yevgeny Prigozhin ou com a ida a Kiev do presidente Marcelo.
Podemos perguntar se se justificava tamanho alarido ou mesmo se estamos perante o tal assassinato social que Rubiales falava? Inevitavelmente, a resposta tem de ser positiva porque talvez seja este o momento de começar a deixar claro quais são as linhas vermelhas no desporto, nomeadamente quando está em jogo o relacionamento profissional dos atletas independentemente do sexo.
Podemos encontrar aqui alguma hipocrisia ou mesmo algum tentar ganhar tempo, mas existem linhas onde se deve deixar claro qual o posicionamento ético.
O Governo espanhol recebeu as atletas e, ao mesmo tempo, também o senhor Rubiales. Não teria sido um bom momento para deixar claro que ele não devia ter integrado a comitiva?
A FIFA andou bem ao suspender o presidente da RFEF, obviamente, dando-lhe a possibilidade de se defender num inquérito disciplinar. Claro está que já aconteceu e, agora, parece ser um mero controlo de danos.
Estamos a chegar a um tempo que tomar decisões ou defender ideias ou causas parece apontar para um resultado sem qualquer mérito.
A morte do líder do Grupo Wagner veio levantar ainda mais dúvidas sobre o modo de agir da Rússia e o seu respeito perante o direito internacional.
Os chamados BRICS procuram ter o mesmo impacto, na criação de uma nova ordem internacional, que teve a Conferência de Bandung, em 1955, quando lançou o movimento dos não alinhados. Acontece que agora o tempo é outro e os líderes ficam, no seu perfil, um pouco abaixo dos originais.
Na CPLP procura-se lançar uma nova dinâmica com um programa que é uma espécie de Erasmus para jovens e com um novo estatuto de mobilidade para quem fala português. Uma ideia que poderá relançar esta comunidade no sentido de promover a língua portuguesa e os interesses dos seus estados-membros.
Entretanto o presidente da República decidiu vetar o pacote “Mais Habitação” e acentuar a sua linha de colisão com o Governo.
Acabou assim por ser uma semana onde o beijo esteve na origem de muitos problemas e de muitas contradições.
No caso de Rubiales foi o beijo da vergonha. No caso de Prigozhin foi o beijo da morte. No caso dos BRICS foi o beijo da expectativa. No caso da CPLP foi o beijo da esperança.
No caso do veto presidencial foi o beijo do afastamento. No caso da ida a Kiev foi o beijo do conforto.
Afinal, o beijo é um sentimento contraditório misto de interesse ou de indiferença.