É de ciência certa: não há territórios fortes sem instituições fortes, sobretudo em regiões que conjugam saldos migratórios assustadoramente negativos com incapacidade para se fazerem ouvir. Parafraseando Miguel Torga, o que resta destes reinos pode ser maravilhoso para a vista, mas é tenebroso para quem lá vive - e para quem gostaria de lá viver.
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É por isso que iniciativas como a que a Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD) tomou recentemente (criação de um Centro Académico Clínico) são decisivas, não apenas no sentido de manterem acesa uma centelha de esperança, mas sobretudo porque empurram a discussão para onde ela tem de ir: convém fazermo-nos ao caminho, sem esperar que, por bondade ou conveniência política, uma luminária centralista abra os cordões à bolsa para calar protestos que aborrecem.
O Centro Clínico, resultado de uma parceria entre a UTAD, o Centro Hospitalar de Trás-os-Montes e Alto Douro e os agrupamentos de saúde da região, apostará na investigação "numa lógica multidimensional entre a saúde pública animal e a saúde pública humana, a ligação às populações e ao envelhecimento", explica Emídio Gomes, reitor da UTAD, que espera iniciar a formação em Medicina já no próximo ano. Estugar o passo: é disso que se trata. Vai longe o tempo em que os alunos chegavam às carradas, porque a procura era muito superior à oferta. Hoje, é preciso ir atrás deles, único modo de viabilizar o futuro das instituições de Ensino Superior que vivem à míngua das receitas que o Terreiro do Paço cativa sem rebuço.
Resta agora esperar que todos os atores da região envolvente da UTAD percebam a importância deste passo e saibam dele tirar proveito. Quem preferir as pequenas invejas e os pequenos palcos estará a dar fantásticos argumentos a todos os que se moveram nos bastidores para evitar que o Centro Clínico ficasse para a UTAD. E não foram poucos...
*Jornalista