Corpo do artigo
A cena internacional evidencia bem o tempo de mudança que estamos a viver. A ordem internacional, herdada do final da II Guerra Mundial (1945), parece estar em fase acelerada de objetiva alteração.
Com a queda do muro de Berlim (1989), começamos a viver um ciclo de transformação dessa mesma ordem mundial.
Com o fim da União Soviética e terminada a ordem unipolar liderada pelos Estados Unidos da América, no início do século XXI, assistimos à emergência de uma nova potência: a China.
Após a invasão da Ucrânia, pela Rússia, assistimos a um novo reajustamento na política internacional. De um lado, um eixo algo contraditório onde, ao lado da Rússia, alinham também o Irão e a Coreia do Norte e, de uma forma algo sinuosa, a China. Os chamados BRICS com o Brasil e a Índia vão mantendo alguma cautela nesse cenário de um compromisso mais comercial do que de venda de armamento.
Do outro lado, a União Europeia e a NATO têm assumido o seu papel de apoio decisivo à Ucrânia nessa luta desigual.
Uma luta que trouxe uma nova noção para a introdução de novas tecnologias numa renovada forma de fazer a guerra. O drone e o míssil têm vindo a substituir a importância da tradicional Força Aérea como meio de ataque ao solo. Ao mesmo tempo a inteligência artificial veio inovar a forma de fazer a guerra. A ideia de tempo e de espaço está a ser alterada no modo de fazer a guerra e de usar a diplomacia.
O conflito entre a Ucrânia e a Rússia parece estar num impasse, onde os cerca de 600 mil militares russos mortos não preocupam ainda a opinião pública local. O conflito onde Israel se debate, no Médio Oriente, numa frente de guerra contra o Hamas e o Hezbollah, evidencia uma forma de guerra entre um Estado e uma organização terrorista que já tínhamos vivenciado contra a Al-Queda e o Estado Islâmico.
Tudo isto tem demonstrado a fragilidade do direito internacional e a sua capacidade de se impor nesta anarquia da ordem internacional. O próprio Tribunal Penal Internacional não tem conseguido fazer valer os seus pontos de vista. Lembramos que o Conselho de Segurança da ONU era presidido pela Rússia aquando da invasão em 2022.
O Mundo está, pois, sem um “polícia” que se consiga impor na comunidade internacional.
As atitudes de Israel perante a ONU e o seu secretário-geral mostram bem o desprezo pelo respeito do direito internacional.
A atual situação vai implicar uma profunda revisão dos tratados da ONU e um novo ciclo da ordem internacional. Não será fácil e até lá teremos alguns obstáculos. O primeiro será já em novembro com a incógnita das eleições americanas. O outro será voltar à mesa da diplomacia para conseguir resolver os problemas.