A luta pela liderança do Governo do país parece ter entrado, em permanência, na agenda política não se sabendo a forma como vai terminar.
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A questão torna-se mais pertinente se conseguirmos equacionar de que forma e para que servem os partidos políticos? Acima de tudo para ajudarem a construir uma cidadania de intervenção visando o cumprimento de uma missão de serviço à comunidade. Serão os partidos políticos atraentes para os cidadãos que se habituaram a viver em democracia?
Estamos fundamentalmente a falar dos cidadãos que fizeram a sua formação escolar, a partir dos anos 80, quando as reformas curriculares começaram a ser evidentes nos respetivos programas. Ao mesmo tempo que a sociedade sofria, de uma forma positiva, a entrada de Portugal na Europa, muita gente fez, entretanto, a sua carreira de intervenção nos partidos políticos, assegurando lugares no seu aparelho e, mais tarde, no exercício do poder.
A sociedade que se ajudou a construir também trouxe com ela outras formas de intervenção como foram as ONG ou as IPSS. Trouxe fóruns de causas e ainda potencializou, nos costumes e comportamentos, o fim de assuntos tabu.
Esta sociedade viu terminar o escudo e a sua substituição pelo euro, viu acabar a CEE e surgir a União Europeia. Esta dicotomia entre o Estado e a sociedade civil levou a que o Partido Socialista ocupe o centro do poder deixando a periferia das soluções para o PSD, que tem sido, desde Cavaco Silva, sempre chamado para resolver as crises.
A conjuntura não tem ajudado a chamada Direita. Desde 1991 que não consegue ganhar umas eleições legislativas com mérito porque o que aconteceu, quer em 2001 e 2011, foram eleições que o PSD ganhou por ausência de alternativa e a desistência do PS e quando as ganhou com esse mérito, em 2014, a geringonça não o deixou ocupar o poder.
Essas eleições de 2014 acabaram por criar um equívoco de um denso nevoeiro na vida política e só geraram a criação de mais partidos à Direita.
Estamos agora numa corrida acesa para que tenham lugar novas eleições quando o PS até conseguiu uma maioria absoluta. Parece estranho o argumento de que não está assegurado o normal funcionamento das instituições.
Sendo o crepúsculo do poder do PS parece ser de exigir que, desta vez, vão mesmo até ao fim para poderem prestar contas aos eleitores. Só assim o denso nevoeiro poderá dar lugar a uma alvorada limpa que imponha uma nova escolha que consolide a democracia e afaste o populismo de um qualquer partido. O conselho de Sophia continua ainda certo: "esta é a madrugada que eu esperava. O dia inicial inteiro e limpo. Onde emergimos da noite e do silêncio. E livres habitamos a substância do tempo."
*Professor universitário de Ciência Política