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O título deste artigo é também o título de um pequeno livro que coordenei, com o meu colega Jorge Costa, em que estão compilados e editados os debates promovidos num encontro realizado em dezembro passado. Pensar o futuro, neste caso da ciência e das universidades ajuda a construí-lo. Obriga a encarar os problemas presentes e a identificar soluções e oportunidades. Obriga a escolher os caminhos possíveis e a enfrentar os dilemas com que nos deparamos. Da reflexão e dos debates resultam três grandes desafios.
Em primeiro lugar, o desafio de mais ciência nas universidades. As universidades são responsáveis por mais de 40% da produção de investigação e desenvolvimento (I&D), acolhem no seu perímetro cerca de 200 centros de investigação de elevada qualidade e promovem atualmente a formação doutoral de mais de 25 mil estudantes. Têm, portanto, um papel essencial no desenvolvimento do sistema científico nacional, na produção de mais e de melhor conhecimento, o que suscita a necessidade de novas políticas de articulação entre a ciência e o ensino superior.
Em segundo lugar, o desafio da ligação à sociedade, o que agora se convencionou designar como “a universidade sem muros”. É um desafio a que só poderemos responder com o desenvolvimento de estratégias e práticas de valorização do conhecimento e da sua transferência para a economia e a sociedade. Neste tópico, tem relevância a gestão das estruturas de interface e dos ecossistemas de inovação, exigindo-se maior informalidade, mais agilidade e clareza na orientação dos processos. Porém, a interação com a sociedade e a economia só é possível no cumprimento das três missões da universidade. Ou seja, é a aposta na qualidade do ensino e da investigação que gerará impactos na transformação económica e social. Se essa qualidade falhar ou fraquejar, os processos de ligação à sociedade poucos contributos darão, por melhor que seja o seu desenho.
Em terceiro lugar, o desafio de uma universidade mais aberta. As tecnologias digitais são hoje instrumentos indispensáveis da inovação pedagógica e para chegar mais longe, para chegar a novas geografias e novos públicos, para afirmar o português como língua de conhecimento e alargar a missão de difusão do saber através do ensino. Enfrentar e cumprir este desafio requer uma reflexão e uma renovação dos modelos de avaliação das atividades, hoje baseados quase exclusivamente em critérios quantitativos e unidimensionais do mérito. Como adverte um dos autores: “a diversidade pedagógica, institucional, de tipos de formação e de certificação são chaves para enfrentar o futuro”.