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Nos últimos dias, o país tem estado dividido entre dois governos. Um eleito para ser o poder executivo e o outro eleito para estar no poder legislativo. Ou seja, um governo que se vai assumindo, implicitamente, como um governo que resulta de uma aliança de incidência parlamentar entre o PS e o Chega.
Numa estratégia de tudo ou nada, perante a ausência de vontade política da AD de fazer possíveis acordos, o Chega entrou em negação e prefere uma instabilidade política assente no quanto pior melhor.
Tem sido esta uma característica geral do Chega. Ainda agora, a propósito do manifesto dos 50 sobre a Justiça, veio logo gritar e ameaçar que não aceita qualquer alteração no modo de atuar do Ministério Público. Esquece que existem muitas coisas que podem proporcionar reformas na atuação dos tribunais. Desde logo, no seu modelo de gestão operacional, no fim das portas giratórias e numa política de comunicação que esclareça a opinião pública e saiba informar o Parlamento da sua atividade. Aliás, a atual lei permite corrigir estas situações, o que parece ser necessário é aplicar a mesma.
O Chega vive agora muito mais dependente do PS e essa coligação negativa não será benéfica para Portugal.
O Governo, por seu lado, tem de compreender que não se deve refugiar em imprevistos, mas antes evidenciar aos portugueses que quer governar e fazer as reformas que são exigidas.
Enquanto deputado que fui, no período entre 1985 e 1987, vivi o constante atropelo, pelo Parlamento, ao governo Cavaco Silva que era frequentemente chamado a “despacho”. Esta situação não foi boa e acabou por levar a uma dissolução da Assembleia da República, pelo presidente Mário Soares, e proporcionou duas maiorias absolutas ao PSD.
A situação das finanças públicas e a fragilidade do sistema económico exigem um governo cauteloso e que não pretenda agradar a todos os grupos sociais.
Reduzir receita e aumentar a despesa pública não parece ser apanágio de quem quer as contas certas.
O Governo deve continuar preocupado com o que foi o seu programa eleitoral e deixar ao Chega e ao PS a preocupação de não deixarem esse mesmo programa ser executado.
O tempo será o melhor conselheiro para, aos olhos dos portugueses, se saber qual será a duração da estabilidade política deste Governo.
Até lá vamos ter a segunda volta das legislativas, com as eleições europeias e será o tempo de mais campanha e de mais promessas.
Ao Governo e ao primeiro-ministro Luís Montenegro resta saber gerir a paciência e a determinação que exige a governação.