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A semana passada trouxe ao conhecimento dos portugueses algo que nunca se pensou como possível. Um deputado foi acusado de furtar malas e várias mulheres, depois da sua maternidade, foram despedidas por um partido de Esquerda. O surpreendente, em ambos os casos, é que falamos de partidos radicais e que se afirmam portadores de uma moralidade superior ao comum dos cidadãos.
Perante os restantes partidos, de repente o Chega e o Bloco de Esquerda mostram que afinal são mesmo semelhantes aos outros cumprindo o velho adágio popular de que “eles são todos iguais”.
Do Bloco de Esquerda a surpresa foi a forma como, rapidamente, a sua líder reconheceu que não tinham sido felizes no método e como os média procuraram, com celeridade, fazer esquecer o caso. Lembramos que foi o mesmo partido onde tinha sido afastado um vereador, por ser um especulador imobiliário, na Câmara de Lisboa.
Do lado do Chega foi o absurdo total. André Ventura, continuadamente preocupado com a necessidade de limpar Portugal, não conseguiu higienizar o Parlamento deste elemento que pareceu perturbado e com algum problema de sanidade mental. A posterior reação do líder parlamentar do Chega mostrou bem o nível a que desceu, em certas áreas, a política. Está muito pior do que as conversas de café ou da bravata de rua.
O outro aspeto positivo da semana foi a reviravolta do discurso do PS, através do seu secretário-geral, a propósito da imigração. Com ele foi possível ver regressar o PS moderado e responsável que a sociedade portuguesa conhece e precisa.
Num momento em que os partidos políticos pretendem disputar eleições autárquicas e vão apoiar candidatos presidenciais, parece ser importante trazer uma lufada de responsabilidade à política portuguesa. A geração dos quarenta anos, que se habituou a viver só em democracia e se prepara para o exercício da governação, precisa de trazer à ação política a defesa do património europeu de uma democracia liberal afastando-se da dinâmica ideológica que parece querer chegar do outro lado do Atlântico.
Encontrar no exercício de um cargo político, com responsabilidade de órgão de soberania, alguém que se entretém a furtar malas já de si é preocupante. Ver essa pessoa a continuar a exercer o seu lugar como represente do povo mais grave o torna.
O mesmo povo costuma dizer que bem pregava frei Tomás, “faz o que ele diz não faças o que ele faz”. Esse não pode ser o exemplo de quem vem apregoar a moralidade de que é diferente dos outros. Este é só um exemplo dos que se afirmam no combate à corrupção, mas são incapazes de ser coerentes. Depois não se queixem das elevadas taxas de abstenção ou da pouca participação pública porque mesmo com demagogia não pode valer tudo.