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A psicologia política parece ensinar-nos que o medo pode tomar conta da crise. Acontece isso mesmo agora, quando se observa a previsível alteração da ordem liberal internacional que herdamos da Segunda Guerra Mundial ou quando, no plano interno, vemos surgir o fantasma de mais eleições antecipadas.
Olhando para o cenário internacional, todos os dias, o presidente americano parece querer desafiar a imaginação mais complexa de qualquer filme de série B. Lembramos aquelas histórias que nos mostravam um menino infiltrado pelos soviéticos, que depois de uma vida perfeitamente normal ascendia à presidência dos Estados Unidos. Agora, parece que estamos nesse ponto. Washington critica os seus aliados ocidentais e elogia a Rússia, e ninguém percebe que estratégia pode produzir. Até agora, evidencia-se o afastamento dos seus aliados na NATO, incluindo o Canadá. Não sabemos o que isto poderá custar ao povo norte-americano, mas estamos já antecipar o que vai custar à Europa e aos ucranianos. Afastada a ideia de uma qualquer capitulação, fica a mensagem de que será preciso dar corpo a uma política comunitária de defesa e de segurança.
No plano interno, a empresa do primeiro-ministro conduziu-nos a um beco sem saída na governação. Certo é que poderia ter feito de outra maneira, se tivesse, lá atrás, compreendido que esta posição poderia dificultar a sobrevivência do seu Governo. Agora, com o chumbo da moção de confiança, depois de ter vencido duas moções de censura, Montenegro vai preparar-se para eleições. Talvez os resultados sejam muito diferentes dos atuais.
Quatro atos eleitorais em menos de um ano - Madeira, legislativas, autárquicas e presidenciais -, temos de aceitar, serão um grande desgaste para o eleitor. É certo que este também é contribuinte e vai pensar de que forma pode resolver esta questão.
O nosso sistema político tem sido posto à prova demasiadas vezes, porque não existe em Portugal uma tradição de diálogo político para viabilizar governos. Não devia ser um sinal de fraqueza, mas antes de sustentabilidade da nossa democracia.
A resiliência democrática eleitoral tem limites para a bondade do povo. Contudo, a demagogia do Chega alerta-nos para que em política não vale tudo.
A psicologia de induzir o medo no discurso político não ajuda a consolidar da melhor forma a nossa democracia. A ironia da história tem estas coisas: há 50 anos, também tivemos um onze de março e ainda hoje vivemos as suas consequências.
Como nos dizia o Prémio Nobel da Literatura William Butler Yeats, “aos melhores falta toda a convicção, enquanto os piores estão cheios de apaixonada intensidade”.