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A eleição de Donald Trump para a presidência da nação mais poderosa do Mundo, os Estados Unidos, veio abrir uma verdadeira caixa de Pandora para o que será o futuro de todos nós.
Desde logo temos aqui várias novidades na ação política que valerá a pena considerar.
A primeira, o facto ter conseguido voltar à Casa Branca depois de falhar, há quatro anos, a reeleição, em disputa com Joe Biden.
A segunda novidade tem a ver com o facto do seu discurso ser, de forma assumida, uma rutura com o politicamente correto.
Finalmente, porque todas as análises, nomeadamente as do impacto do discurso do medo e da vingança, foram indiferentes a mais de metade do eleitorado americano.
Vamos então por partes. A reeleição de Donald Trump fica a dever-se a muita da sua resiliência e ao facto de o Partido Democrata não conseguir apresentar uma nova geração de líderes políticos que consigam mobilizar os norte-americanos. Não só perderam a presidência, como o Senado e o Congresso. Vai ser preciso muito trabalho para voltar a ter o domínio da agenda política.
O fim do discurso do politicamente correto, com todos os riscos de ser justamente acusado de populista, e, acima de tudo, a decisão do eleitorado parece-nos querer dizer que estão fartos de políticos que não se preocupam com os seus problemas e só preenchem uma agenda que procura responder a certas minorias, muito alimentadas pelo sistema mediático e por interesses subjetivos. Talvez seja esta a grande lição a retirar destas eleições. A indiferença do eleitorado ao medo é uma forma de vingança que também assenta na confiança e solidez das instituições americanas e no seu sistema político.
Os eleitores são soberanos e voltaram, nesta eleição, a dizer isso de uma forma estrondosa.
A partir de 2025, o Mundo vai mesmo mudar. Não para fazer uma América grande outra vez, mas porque o novo presidente vai querer ajustar contas com as lideranças políticas de vários estados. Vai trazer turbulência à NATO, vai querer reavaliar as relações comerciais com a União Europeia e poderá deixar de apoiar a Ucrânia. Tentará ficar para o Mundo como um líder político que separou a América dos seus aliados europeus no Atlântico e que tentará seduzir outros aliados no Pacífico.
As relações com a Rússia e a China podem ser mais compreensivas na senda da doutrina Monroe.
Parece ser este o tempo de voltar a ler Tocqueville, e ao seu “Da democracia na América”, e interpretar essa reflexão sobre um país construído de oportunidades e por imigrantes.
Esperemos que não fique na história como o presidente que esqueceu o papel histórico dos EUA na construção e defesa do Mundo livre. Desejamos antes que seja o presidente que os mercados, no dia seguinte, souberam saudar e a quem Joe Biden assegurou uma transição tranquila e pacífica.