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Por mais que uns e outros tentem dramatizar o discurso político-novelesco (“tu é que és o culpado da crise; não, tu é que és...”), falham explicações racionais que nos valham. O país foi atirado para um caos político-institucional irresponsável e de consequências por medir. E isso é tão mais inaceitável quando acontece num contexto de múltiplas batalhas no Mundo. Em certo sentido, Portugal acelera em contramão na autoestrada da realidade, entregue à soberba e despautério de políticos sem craveira. A bravata ideológica e o apego ao orgulho partidário valem mais do que os interesses de um país que, não é arriscado afirmar, ainda não percebeu por que carga de água foi arrastado para este lamaçal.
Não quer isto dizer que Luís Montenegro possa eximir-se de responsabilidades na criação deste turbilhão. Mas são precisos dois para dançar o tango. E as democracias vivem precisamente da necessidade apurada de diálogo entre as partes, sobretudo quando os fins são bem mais importantes do que os meios. Por isso, sentem-se e conversem. Ninguém deve ter medo de eleições, mas o ponto não é esse. O Mundo não quer saber de nós. A Europa que parece estar a acordar depois de uma longa letargia não vai esperar pelas nossas zangas domésticas. A concorrência económica a que estamos hoje sujeitos não se compadece com intervalos para pensar. Já para não falar, obviamente, dos ganhos potenciais de tudo isto para os populistas que, verdade seja dita, vão poder vociferar com propriedade contra os algozes do costume.
Resta-nos esperar que o tino que ganha lastro no interior de PSD e PS em busca de uma solução que pacifique as hostes e mate o assunto prevaleça. Mas a missão é espinhosa: do outro lado do ringue está a fome insaciável dos aparelhos partidários que picam os líderes e babam por lutas de galos. Saibamos, pois, onde nos movemos: o Mundo está a mudar a grande velocidade e não quer saber de nós.