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Uma região de 3,7 milhões de pessoas, que representa quase 40% das exportações, apresenta uma balança comercial superavitária, deu saltos de tigre no sucesso escolar e na cadeia de inovação tecnológica nos últimos 20 anos e ainda se coloca na casa de partida para ser neutra em emissões de carbono só pode ser uma região central na governação. (Essa região é o Norte.) Esta verdade à Senhor La Palisse esbarra com o imobilismo do centralismo e da visão verticalizada das políticas, que persiste em desvalorizar o território como chave-mestra. O paradoxo do Norte é, porém, o do país: o de ser rico em recursos e qualificações e continuar assimétrico e atrasado, no contexto europeu – constatação que em nada desvaloriza o extraordinário salto (sem paralelo na nossa história) de desenvolvimento e qualidade de vida alcançado no pós-25 de Abril e após a integração europeia. Há, todavia, um enguiço que nos bloqueia e destitui eficácia, tornando perdulários muitos esforços. Esse enguiço está relacionado com a muito incompleta reforma do Estado – isto é, a ainda incipiente construção de um modelo “multinível” de governação. Sei que este é um palavrão, mas nem sempre a verdade é um soundbaite. Neste caso, poderia ser explicada na imagem de uma máquina cujas rodas dentadas (cada uma representando um setor) não engrenam entre si. Todas trabalham isoladamente, sem eficácia. Ou então na imagem de um enorme fosso, dificilmente transponível, entre dois polos distantes. De um lado, o legislador e as macropolíticas; do outro, 308 municípios, num diálogo fragmentado e cacofónico. Sem uma roda dentada intermédia que articule as demais ou sem uma ponte entre os dois fossos, as situações retratadas tornam-se perfeitos absurdos. É a realidade que temos. E por isso se torna indispensável e estratégico reforçar o escalão “multinível” e regional do Estado, num modelo que integre territorialmente as diferentes políticas: economia, inovação, ambiente, agricultura, cultura, turismo…
Não compreender isto é falhar o diagnóstico e, consequentemente, a estratégia. Com a vantagem de, neste caso, se caminhar simultaneamente para uma maior racionalização e democratização do Estado (mais barato e mais próximo) e para a promoção da coesão territorial. Por isso, grande parte dos desafios mais estratégicos da governação saída das eleições de 18 de maio deverá de passar pelas regiões. A Norte, somos, simultaneamente, a imagem do problema e a substância da solução.