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1. Celebrámos há dias a Europa. Fiquei com a impressão de que o fizemos com mais brilho e ênfase que noutros momentos. A consciência do risco da erosão do projeto europeu – que se assemelhou tantas vezes a uma utopia de paz, solidariedade e prosperidade – apega-nos mais a este ideal de integração. 2025 será um ano decisivo na redefinição do projeto europeu. Os desígnios da segurança e da autonomia económica e energética da União colocam grandes desafios, um dos quais é também o de fomentar a sua coesão política e territorial. Esses objetivos não podem ser contraditórios. Esteve bem o Parlamento Europeu quando, há dias, rejeitou “a ideia da Comissão de reproduzir o modelo de um plano nacional por Estado-membro do Mecanismo de Recuperação e Resiliência”, preconizando em contrapartida uma estratégia que “envolva os órgãos de poder local e regional”. A resolução sublinha categoricamente o papel da política de coesão europeia na vida económica, na coesão social e no combate às desigualdades, recusando a centralização das políticas. Assim se pode continuar a fazer da Europa o melhor lugar para viver.
2. O país está a votos. Entre convicções e incertezas próprias deste período, persiste interiormente nos portugueses a expectativa de que o futuro mosaico político garanta a estabilidade e viabilidade das reformas de que necessitamos. Entre essas, está a do aprofundamento do modelo regional de políticas públicas. Sem isso, nenhuma política relacionada com a habitação, a demografia, a transição digital, a água ou o emprego serão sustentáveis e plenamente bem-sucedidas. Não podemos viver nem com um Estado desconchavado nem com políticas abstratas e generalistas, desconhecedoras do “país real”. As notícias e indicadores mais recentes sobre a aplicação do PRR (e a necessidade da sua reprogramação) são mais uma confirmação dos ganhos de uma territorialização do Estado. As regiões são a chave da reforma de uma administração pública próxima e democrática, inteligente e eficiente, parceira dos municípios.
3. O conflito e a espiral de destruição da Faixa de Gaza criaram um problema humanitário de dimensão histórica e mundial a que não podemos ser insensíveis. Os países de cultura humanista e democrática, e a União Europeia, devem envergonhar-se da catástrofe humanitária a que assistimos todos os dias – e não devem adiar mais uma ação que trave o progresso da barbárie e da tragédia. Em contrapartida, animam-nos os sinais de esperança pelo fim da guerra na Ucrânia. A Europa deve interpretar o seu papel na paz, na reconstrução e no seu alargamento.