Luís Montenegro ganhou as eleições diretas do PSD de uma forma clara e sem margens para dúvidas.
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Os militantes do PSD decidiram e, parece ser possível, que o partido venha a ganhar a paz necessária para se preparar para um novo ciclo político. Não existem outros argumentos para uma abordagem diferente?
A campanha interna poderia ser avaliada e também se podiam encontrar outras justificações para muita coisa. O tempo agora não pode ser para, de imediato, se tirar mérito à vitória de Luís Montenegro. Isso mesmo, de forma clara, soube Moreira da Silva reconhecer.
Agora o PSD tem de ser um só partido, unido na sua liderança mas, como sempre, a recusar a unicidade das oportunidades.
Os desafios desta alternância serão imensos. Reposicionar o partido no Parlamento. Ser mais ativo a fazer oposição ao Governo socialista. Encurtar a margem de crescimento do Chega e da Iniciativa Liberal estará sempre presente como uma sombra desta liderança. Não podemos esquecer o eleitor flutuante de centro-esquerda, o tal que dá as vitórias eleitorais. Esse será o grande objetivo: ganhar cerca de dois milhões e meio de votos dos portugueses que estão desiludidos com toda esta maneira de fazer política. O PSD precisa, de novo, de ter uma vontade reformista para inovar num modelo de SNS, para afirmar a complementaridade do Estado social, ter uma política de rendimentos, propor medidas que concretizem o crescimento da economia, avaliar o sistema fiscal, olhar para a demografia e estar preocupado com as respostas que o envelhecimento exige da nossa sociedade.
As alterações provocadas pela pandemia da covid e pela guerra Rússia-Ucrânia evidenciaram como as alterações climáticas e a transição digital ganham espaço no discurso político ao lado da geopolítica e da geoestratégia.
Inevitavelmente, o novo líder vai ter de preparar e ajustar o PSD para esse novo mundo. Um mundo mais pequeno, cuja globalização vai ser diferente, onde os discursos contra a União Europeia perdem espaço e a NATO ganha importância.
Até ao final serão muitos os testes da liderança. Rui Rio passou alguns, mas não soube ganhar o mais importante: a possibilidade de governar. Luís Montenegro sabe que as eleições europeias serão decisivas para a sua liderança. Será, pois, necessário começar a trabalhar de imediato e preparar essas eleições e as autárquicas.
A sua liderança tem de saber compreender o velho princípio de Francisco Sá Carneiro sempre a construir a unidade mas nunca estimulando a unicidade.
Um partido aberto à sociedade civil e a todos aqueles que querem criar um Portugal cujo PIB seja sinónimo do bem-estar e da felicidade dos seus cidadãos.
A ver vamos.
*Professor universitário de Ciência Política