O conflito entre a Rússia e a Ucrânia evoluiu, na última semana, quer ao nível militar quer no domínio da atuação diplomática.
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Curiosamente essa iniciativa diplomática parece desaguar sempre em Pequim oferecendo um papel especial ao líder chinês Xi Jiping.
Antes tinha sido a visita do chanceler alemão Scholz e do primeiro-ministro espanhol, Pedro Sánchez, depois a visita paralela do presidente da França, Emmanuel Macron, e da presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, a revelar a importância do mercado europeu para a economia chinesa, sendo a inversa também verdadeira para algum investimento estrangeiro. Pese embora não existir, no comunicado final, qualquer referência à Rússia, a questão de se encontrar uma solução para o conflito esteve presente no processo de avaliação da situação, que sendo de cariz militar terá de se encontrar uma solução política.
Nesse sentido, parece estar a trabalhar, nos bastidores desta crise, o ministro das Relações Exteriores do Brasil, Celso Amorim, procurando preparar a deslocação do presidente Lula da Silva à capital chinesa. Este, por seu turno, já veio avisar que as partes vão ter de ceder para se poder encontrar condições para se estabelecer a paz. Pediu à Rússia para deixar os territórios ocupados e à Ucrânia para que encontre uma nova solução para a Crimeia.
A ideia chinesa é que se torna necessário abrir um processo negocial. A negociação parece ser urgente, empenhando a diplomacia da comunidade internacional, pois todos já perceberam que quanto mais dura o ambiente de guerra mais problemáticas se vão criando e o conflito se vai agravando. Não querendo quebrar pontes com o Ocidente, a China mantém, com a sua proteção à Rússia, a pressão para uma solução política evitando uma derrota militar de Putin.
Entretanto, o ministro dos Negócios Estrangeiros russo veio dizer que o seu país deseja uma nova ordem internacional, sem a hegemonia dos EUA, e para durar cem anos.
Quanto ao tempo, ninguém o pode prever, mas quanto à estratégia, ela assenta no novo protagonismo que a China pretende assumir.
Esta nova ordem internacional parece reservar um novo papel à ONU e, talvez, um novo perfil do Conselho de Segurança.
A Europa também está a sentir a diferença entre a velha, representada pelo eixo Paris-Berlim e uma nova centrada a leste e sempre desconfiada de Moscovo.
Lula da Silva deixou antever que a solução poderia passar pela cedência da Crimeia, o que mereceu uma resposta negativa de Kiev. Recordamos que, aquando da ocupação da Crimeia em 2014, o veterano das relações internacionais, Henry Kissinger, declarou que a solução passaria por uma gestão bipartida entre ambos os estados.
Até lá vamos, pois, esperar pelos resultados da contraofensiva da primavera.
*Professor universitário de Ciência Política