Além da sua grande missão de cuidar do nosso bem-estar, presente e futuro, há um outro lado da Saúde, menos conhecido, a que vale a pena deitar um olhar. É o seu lado de motor do desenvolvimento social e económico.
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Com efeito, a Saúde em Portugal emprega hoje mais de 400 mil pessoas, cerca de metade das quais com formação superior, o que equivale a cerca de 8,5% do total do emprego.
E envolve um volume de negócios anual acima dos 34 mil milhões de euros, gerando um VAB de quase 12 mil milhões, o que representa quase 6% do nosso PIB, onde, além da prestação de cuidados, se inclui a atividade comercial e industrial da farmacêutica, dos equipamentos e dos dispositivos médicos.
No final do ano em curso, o total das exportações de bens de Saúde deverá bater um novo recorde, ultrapassando os dois mil milhões de euros. É mais do que as exportações de vinho e de cortiça juntas e, julgo, que mais do que o calçado. Trago estas comparações não numa lógica de campeonato entre setores, pouco interessante ou útil, mas para ilustrar o que julgo ser o desconhecimento desta realidade pela maioria dos leitores.
Na ciência, a Saúde passou a ser o setor que mais publica. O investimento anual em investigação e desenvolvimento (I&D) anda pelos 500 milhões de euros, cerca de 40% dos quais da responsabilidade das empresas.
Mas o nosso principal ativo é inquestionavelmente a qualidade dos recursos humanos que todos os anos saem das nossas universidades. É gente de grande qualidade, cobiçada por todo o Mundo.
Este outro lado casa assim muito bem com o lado mais conhecido, que todos os dias é responsável pela prestação, na ampla rede hospitalar pública, privada e social, de cuidados de qualidade que, apesar de alguns percalços conjunturais, compara bem com o que se faz noutras geografias, designadamente na Europa.
Ora, juntando estes dois lados da Saúde, temos que concluir pelo reconhecimento do elevado potencial do cluster nacional da Saúde para voos mais altos na resposta às necessidades crescentes do mercado ou, dito de outra forma, às exigências do cidadão por mais e melhor saúde.
Estas são as boas notícias, as menos boas são as que resultam da resposta à pergunta óbvia: porque não tiramos então maior partido deste potencial?
Haverá com toda a certeza respostas para todos os gostos. A minha, e num esforço de síntese das muitas varáveis em presença, é: porque sofremos de uma atávica e paralisante cultura instalada, em particular nas estruturas de decisão, que ainda desconfia de tudo o que vem das dinâmicas empreendedoras da sociedade civil, nomeada e particularmente das empresas, preferindo uma tranquilidade bafienta, muito publica ou público-dependente.
Temos definitivamente de deixar de ver a Saúde apenas como um custo e considerá-la um investimento.
*Diretor-executivo do Health Cluster Portugal