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Francisco partiu, de regresso à casa do Pai, entre a Páscoa e antes do 25 de Abril, uma data com muito significado para Portugal e para Itália.
Francisco deixa-nos um legado de esperança e otimismo sobre o nosso futuro coletivo, mas não se esqueceu de nos alertar para a necessidade de termos coragem de enfrentar este tempo estranho. Mostrou-nos, com a sua imagem numa Praça de S. Pedro vazia, por causa da pandemia, como devemos ser resilientes nas adversidades e não perder a fé. A sua fé era em volta de uma Igreja renovada assente numa trindade cuja principal base era acolher todos, todos, todos.
Foi um Papa que trouxe a Igreja de João XXIII para o século XXI percebendo o notável trabalho dos seus antecessores. Compreendeu que João Paulo I, não tendo tempo para cumprir a sua missão, deixava aberto esse caminho para a mudança que a circunstância impunha. Percebeu, como o fez João Paulo II, que a Igreja tem de estar presente no que acontece no Mundo. Aceitou a importância do Papa Bento XVI para um certo revigorar da doutrina social da Igreja. Quis fazer e deixar novas práticas abrindo a Igreja ao mundo cristão e católico sem esquecer as outras religiões. Fez um novo Colégio de Cardeais que irão escolher o seu sucessor, mas admitiu que não conseguiu renovar suficientemente a Cúria romana.
Próximo das pessoas e dos seus problemas, basta ver a sua última preocupação ao deixar os últimos apoios financeiros que obteve a uma estrutura de jovens reclusos italianos. Era também o adepto do San Lorenzo de Almagro que não escondia que torcia pelas suas vitórias.
Em 2022, graças ao cardeal Tolentino de Mendonça, estive com ele numa audiência que concedeu à Misericórdia do Porto e à Irmandade dos Clérigos, onde retenho uma conversa simples com assuntos que preocupam qualquer um de nós. No final, quando lhe entregamos uma garrafa de vinho do Porto, com o ano do seu nascimento, fez um comentário só possível a um Homem simples: este merece um momento especial.
Agora vem aí, para a Igreja, o tempo do conclave. Curiosamente um filme com este título chegou agora a exibição, evidenciando os bastidores dentro do colégio de cardeais para escolher o Papa.
Quero acreditar que a realidade deste conclave vai ser diferente e os cardeais não vão esquecer o legado de Francisco de continuar a imortalidade da Igreja, compreendendo os problemas do nosso tempo. Afinal, o problema da sede que precisa de água, no dizer de José Tolentino de Mendonça, e a forma de o resolver serão o princípio que pode conduzir a escolha do sucessor de Francisco.
Na hora da despedida, fica algo que nos transcende a todos: o legado e o exemplo de um Homem bom que gostava de pessoas de todas as origens, sexos, idades, raças e credos. Deus não faria melhor.