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A ideia é sedutora, até aos olhos do Papa Francisco: castigar os muito ricos com mais impostos, numa lógica distributiva que, não sendo milagrosa, podia compensar as desigualdades e, numa perspetiva algo bondosa, ajudar a mitigar a pobreza no Mundo. O tema estará na mesa do G20, a propósito da discussão global em torno da criação de uma nova taxa para os abastados. No caso de Portugal, e de acordo com a Tax Justice Network, que usou o modelo espanhol como métrica, esta eventual tributação, que se aplica a contribuintes com património líquido superior a três milhões de euros, poderia render 3,6 mil milhões de receita adicional ao Estado, afetando um total de 42 mil indivíduos. Parece muita gente, mas na verdade corresponde apenas a 0,5% dos mais ricos entre nós.
Facilmente se percebem as razões pelas quais a Esquerda aplaude de pé e a Direita franze o sobrolho. Os primeiros acreditam que a carga fiscal é uma forma direta de equilibrar os pratos da balança social; os segundos alegam que Portugal precisa de preocupar-se mais com os pobres e menos com os ricos. Arrisco dizer que têm ambos razão. A essência desta medida não pode ser desligada da imposição de uma certa moralidade no sistema. Mas não podemos ignorar que os ricos têm múltiplas formas de desviar as fortunas para latitudes onde não os aborreçam. Ou seja, não sendo despicienda a dimensão da recolha fiscal (a soma equivale ao orçamento anual das Nações Unidas), devemos refrear as expectativas sobre o real poder diferenciador desta contribuição.
Para já, o Governo português não fecha a porta (Portugal adora impostos), mas vai ficar à espera para ver o que decidem os outros. Uma coisa, ainda assim, podemos dar como certa: por cada taxa global para punir os super-ricos criada, nascem cem novas contas em paraísos fiscais. Aí sim, é que valia a pena atacar sem demagogias.