Falar de extremos, na política portuguesa de hoje, é falar do Chega e do Bloco. O PCP, esse nunca foi um partido extremista, antes um partido extremamente pragmático. Basta um exemplo para tal: o seu comportamento durante o 25 de Novembro.
Corpo do artigo
Então porque é que dois partidos minoritários na vida política portuguesa acabam por condicionar a ação política do Governo de António Costa?
Ambos acabam, quase 50 anos depois do 25 de Abril e do PREC, de revelar um tempo de ajuste de contas. No final, ambos se apresentam como os filhos e os netos daquele período conturbado que Portugal viveu e pretendem hoje, em plena terceira década do século XXI, acertar estratégias para continuarem a manter o país adiado.
O papel importante do centro político é saber atrair os eleitores que, sendo flutuantes, acabam por dar as vitórias em cada eleição.
Desde sempre competiu ao PS e ao PSD saber dominar o centro e os seus eleitores. Um, o PS, com políticas mais à esquerda, em regra na área social, o outro, o PSD, com políticas mais à direita, em regra na área da economia. Ambos respeitando o pacto constitucional e essenciais para a revisão da Constituição de 1976.
Qual tem sido o equívoco do PSD? Na minha opinião, não saber liderar a direita e à direita. Tudo isto acabou por proporcionar o surgimento do Chega, com uma resposta mais securitária para alguns eleitores e da Iniciativa Liberal, com uma preocupação mais económica. Os eleitores da antiga AD não se sentem representados. Não podemos esquecer que a bandeira do ambiente, por exemplo, assumida pelo PSD, com Carlos Pimenta, nos anos 80 e 90 desapareceu. As políticas de juventude não fazem a agenda.
Fala-se hoje muito do regresso de Passos Coelho ou mesmo de outros candidatos para a substituição do líder do PSD.
Será que o problema do PSD é só o líder? Parece-me que será, antes, um problema do próprio partido, o qual continua a comportar-se como se nada estivesse a passar-se à sua volta. Distante dos problemas da sociedade, a procurar, muitas vezes, ter soluções políticas de secretaria.
O PSD precisa, pois, de se reinventar e saber voltar, de novo, a liderar a casa do centro-direita e captar os eleitores que estejam descontentes com a governação socialista.
Para isso, tem de saber captar os melhores da sociedade civil e todos aqueles que não precisam do rendimento mínimo da política para sobreviver.
Como dizia uma cantiga do PREC, ainda "não há machado que corte a raiz ao pensamento".
Será interessante não esquecer que, em 2024, fazemos 50 anos do 25 de Abril, mas, em 2026, 100 anos do 28 de Maio.
Professor universitário de Ciência Política