Sempre que os presidentes da República utilizaram, no quadro da Constituição, a bomba atómica da dissolução do Parlamento acertaram no sentido da mudança que o país exigia.
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Foi assim com Eanes, Soares, Sampaio e Cavaco. A seguir às suas decisões de interromper uma legislatura o povo deu-lhes razão ao alterar a maioria parlamentar.
Agora temos dúvidas que o presidente Marcelo venha a acertar com uma ideia de mudança de ciclo político. Antes devemos ir, como aliás ele já vai prevendo, de miniciclo em miniciclo de crise política.
Isto porque anunciou, muito cedo, qual seria a sua solução em caso de chumbo do Orçamento do Estado. Mesmo sabendo da profunda crise que a geringonça estava a viver e a condição que a Direita iria viver por causa das suas eleições internas.
Agora sabemos que se poderá esperar tudo se o PS a ganhar as eleições. Isto é uma nova geringonça 3.0 ou um novo bloco central de incidência parlamentar. Isto porque o país não pode ficar bloqueado na sua governação.
À Direita, contudo, o CDS parece estar a desagregar-se com a saída de alguns notáveis e com o seu líder a furtar-se ao escrutínio interno. O PSD, pelo seu lado, parece querer manter a sua divisão interna para tentar perceber quem será o candidato a primeiro-ministro. António Costa saberá fazer uma campanha explorando esse aspeto, salvo se o líder do PSD for Rui Rio porque aí o eleitorado moderado do centro-esquerda poderá dar o seu voto a este.
Nesta equação ganha relevo ainda o Chega que, segundo as sondagens, se apresenta como um terceiro partido em Portugal e logo, decisivo, para formar governo à Direita. Neste cenário parece interessante antecipar que, quer no PSD quer no PS, pode ser importante um esforço de apelar ao eleitorado para concentrar votos e permitir a formação de uma maioria clara de um partido.
O alargamento do arco da governação, à extrema-esquerda e à Esquerda radical ou de protesto, criou as condições para a chamada bipolarização da vida parlamentar.
Assim ou temos maiorias à Direita, mesmo assim mais fáceis de fazer, ou à Esquerda, aqui a ser necessário existirem acordos escritos que assegurem a legislatura.
Está em causa a governabilidade que o presidente parecia querer assegurar e que Bruxelas e os mercados apreciam.
Estamos, pois, numa zona de elevado risco socioeconómico e de responsabilidade política acrescida.
Vamos então a um tempo de arrumar a casa e preparar os discursos políticos para a campanha eleitoral. Como sempre o PSD tem aqui um papel importante, quanto mais não seja porque será o único a ir a votos devidamente legitimado.
Venham, pois, rapidamente as eleições.
*Professor universitário de Ciência Política