O tempo de pré-campanha começa a evidenciar de que modo alguns partidos políticos se preparam para defenderem os interesses dos eleitores nas suas candidaturas à Assembleia da República.
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Alguns limitam-se a elaborar programas muitos curtos, cientes de que isso não é o seu ponto central de intervenção. Outros preparam documentos extensos e fundamentados observando as suas implicações orçamentais para a sua concretização.
Acontece que Portugal tem, nestas eleições, necessidade de um conjunto de reformas que possibilitem ao país sair desta armadilha perigosa para onde vem sendo arrastado nos últimos anos de governação com o apoio da geringonça.
O que esperam os portugueses das propostas de programa eleitoral? Que sejam exequíveis, orçamentalmente possíveis e prospetivas.
Ideias não faltam, se houver vontade política. Começamos por aliviar a carga fiscal, tornando mais competitiva a atração de investimento estrangeiro e a criação de emprego. Desenvolver uma verdadeira política de rendimentos que permita o crescimento dos salários e a sustentabilidade do elevador social.
Concretizar as reformas na justiça e na educação para dar sentido à noção de cidadania e responsabilidade que o país exige. Na saúde, criar, sem aumentar a despesa pública, um instituto que realize a gestão do SNS de uma forma integrada e descentralizada com todos os agentes envolvidos, sejam públicos, privados ou sociais.
Associar a esta reforma a demografia integrando as políticas de natalidade e do envelhecimento como decisivas para a sustentabilidade da nossa segurança social.
Olhar para a economia para exportar valor acrescentado, aumentar a produtividade e realizar a transição digital.
Perceber que as alterações climáticas vão implicar uma solidariedade nacional que só será possível com políticas que dinamizem o interior e a sua articulação com os territórios de Espanha.
Finalmente, assumir a discussão de um novo modelo de organização administrativa do Estado. Seja por modelos alternativos de descentralização ou pelo referendo da regionalização.
Existe, pois, um conjunto de assuntos, para além do vírus, que podem permitir uma campanha eleitoral viva e participada.
Sabemos que, nem a todos interessa esse debate. Causa ou consequência dele não, poderão ser umas meras frases de circunstância ditas num espaço televisivo. Os portugueses não compreenderiam que os candidatos ao Parlamento continuem a esquecer-se da resolução dos seus verdadeiros problemas. Os tais que dividem o país entre real e político.
Coragem e solidariedade são duas palavras decisivas nesta campanha.
*Professor universitário de Ciência Política