Discutiu o Parlamento uma moção de censura ao Governo. Nada mais do que tentar ganhar espaço político, que o Chega pretende, no combate à Direita.
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A opinião pública compreendeu que o Chega acabou, com esta atitude de legitimar o Governo e os erros que este tem vindo a cometer. Desde logo porque toda a oposição de Esquerda votou com a maioria socialista e porque quer o PSD quer a IL tomaram a única atitude possível: a abstenção.
O sentido de oportunidade do Chega ficou claro ao desperdiçar o debate político e ao não ter uma atitude construtiva. Esta moção de censura acabou por não permitir separar as águas e clarificar a diferença entre a Direita e a Esquerda.
Para os partidos parlamentares foi um debate penoso e que só permitiu assistir-se à demagogia do Chega.
Do debate podemos ainda retirar uma conclusão. O frete do Chega ao Governo não foi sensível quer ao PSD quer à IL e permitiu que o BE, o PCP, o Livre e o PAN não tivessem outra alternativa senão votar contra a moção e a favor do Governo.
Estamos, pois, num tempo em que o Governo do PS tem uma confortável maioria absoluta e as dificuldades que vive resultam mais do desgaste do poder e da ambição dos seus membros. Inevitavelmente será um tempo complicado para o Governo onde a inflação pode atingir os 8% e os serviços públicos entraram numa rutura sem regresso.
Mais do que o comportamento e os erros de comunicação do ministro das Infraestruturas, o que está em causa, por exemplo, é o não funcionamento da empresa pública de transportes aéreos, o não funcionamento do Serviço Nacional de Saúde e o velho problema dos incêndios. Perante estas situações, o Governo tem estado ausente da solução e abandonado os imensos funcionários que tentam responder aos problemas dos cidadãos.
Tudo parece apontar para que o ano de 2023 seja um ano de recessão económica com as nefastas consequências financeiras que já conhecemos.
Portugal tem atrasado as reformas que precisa, vive em circunstâncias acima das suas possibilidades, não tem uma política de rendimentos e não parece querer resolver as situações de funcionamento de serviços públicos.
Vale, nesta conjuntura, a nossa política de alianças. Isto é, a participação na União Europeia e na NATO, que ajudam a disfarçar muitas das nossas debilidades.
Como maior partido da Oposição, o PSD tem aqui uma oportunidade. Ir para o país real falar com as populações. Transformar as conclusões em alternativas legislativas. Fazer ouvir a voz dos milhares de portugueses que todos os dias vão trabalhar para sobreviver. A estes o PSD deve explicar, e deixar uma palavra de esperança, que pode e quer fazer melhor do que o PS.
Só assim fará sentido acreditar.
*Professor universitário de Ciência Política