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Terminado o mês de agosto e, com ele, o período de férias de muitos portugueses e da nossa classe política, os partidos acordaram com as suas propostas na respetiva rentrée, enquanto alguns se começam a preparar para as eleições presidenciais.
Neste regresso à política o que temos? Aumento da inflação, redução das poupanças dos portugueses e o Estado a faturar mais com as multas dos novos radares. Tudo isto enquanto o país se prepara para discutir o Orçamento para 2024 e o Governo tenta sensibilizar Bruxelas para o problema da habitação.
No mais parece que alguns têm razão quando alertam que a Oposição devia saber agir e mostrar-se mais decisiva perante um Governo que vai fazendo o que pode sem querer desagradar às corporações. Contudo, o que acontece é que parece que ninguém está satisfeito. Professores, médicos, agentes do direito e outros funcionários públicos preparam um novo movimento grevista ao qual os portugueses já se habituaram.
Nesta governação parece existir um duplo sentimento, ou seja, os que consideram que existe necessidade de fazer reformas e os que receiam, porque não sabem, alterar alguma coisa nas áreas que lhes estão entregues. Existem exemplos positivos que vale a pena referir como é o caso da direção executiva do SNS. Fernando Araújo tem procurado alterar o paradigma porque compreendeu que o problema já não é dinheiro, mas sim melhorar a gestão e captar os melhores talentos para que o SNS continue a ser a grande conquista de Abril. A reforma da articulação entre os cuidados de saúde primários e os hospitais não será fácil de concretizar pela muita resistência à mudança. Não é uma ideia original e já deveria ter sido desenvolvida e implementada, mas graças a Fernando Araújo, e com o apoio de Manuel Pizarro, vai em frente.
Um exemplo, pela negativa, será a política de habitação do Governo que apela agora por apoio da União Europeia. Continuo a considerar que se poderia ter ido mais longe se as verbas em questão fossem entregues aos municípios e se fizesse participar no processo os próprios interessados permitindo-lhes o acesso, no final, à plena propriedade. O Estado pode e deve corrigir o mercado quando existem exageros, mas não necessita de ser o proprietário de todas as casas.
As políticas públicas precisam de inovação, de risco e de intuição política. Esta forma de fazer política tornando as pessoas dependentes do sistema, que gira em volta da riqueza do Estado, não produz grandes resultados. Aliás, o único que acaba por produzir é gerar um terreno fértil para os líderes populistas que tudo resolvem. Até lá vamos ver se os impostos são mesmo para mexer...