Estamos de volta a uma crise financeira? Agora que alguns bancos nos Estados Unidos ou o Credit Suisse, na Europa, estão a atravessar profundas dificuldades. Os mercados souberam imediatamente reagir e os bancos centrais mantiveram a sua atitude de cautela.
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Esta crise poderá ser o resultado do combate à inflação e à consequente elevação das taxas de juro? Vai ser, então, o tempo dos governos terem de intervir.
Por todo o lado parece estar a surgir um fantasma que se pensava impossível, desde finais de 1945, aparecer.
Contudo, tal como aconteceu nos primórdios da II Guerra Mundial, temos hoje um conjunto de situações que nos obrigam a ser muito prudentes e atentos.
De um lado na geoeconomia, como resultado das sanções económicas, parece estar a faltar o capital que faz andar o Mundo. Isto é, o capital russo está imobilizado, o capital chinês expectante e o capital árabe aguarda o desenvolvimento de uma outra oportunidade. Entretanto, as economias parecem ter dificuldade de travar a inflação.
Do lado da geopolítica e da geoestratégia, a China parece querer desafiar os Estados Unidos de forma provocatória, reafirmando a sua intenção de juntar Taiwan ao continente e, desta forma, ter a expectativa de assumir um papel na economia mundial dos chips. Ao mesmo tempo, promoveu uma reconciliação entre a Arábia Saudita e o Irão. O reforço do seu orçamento de defesa e a viagem a Moscovo, aparentemente para promover a paz, de Xi Jinping, evidenciam como Pequim está a aproveitar este momento para ganhar peso mundial. Curiosamente qualquer iniciativa com Taiwan, fala-se que será até 2027, vai implicar também uma mudança na vida política, social e económica da própria China.
Neste cenário, o Ocidente apresenta-se um pouco desordenado. Na Europa, afirma-se, cada vez mais, uma diferença de atitude entre a velha e a nova Europa cujo momento mais significativo é a disponibilização de caças MIG, pela Polónia e a Eslováquia, à Ucrânia. A França, por exemplo, parece ter na idade da aposentação a sua principal preocupação.
Os Estados Unidos querem continuar a liderar este bloco ocidental e mostram, com a aliança, no Pacífico, envolvendo a Austrália e o Reino Unido (AUKUS), onde o Mundo se vai defrontar com a defesa das democracias face aos regimes autoritários.
Por cá, parece que nada nos preocupa e que tudo vai bem. O que nos parece valer de espanto é o mandado de captura, pelo Tribunal Penal Internacional, de Putin. Afinal, estamos a falar de um tribunal a que nem os Estados Unidos, a Rússia, a China ou, já agora, a Ucrânia reconhecem qualquer validade às suas decisões. A Turquia, por seu turno, acompanhada pela Hungria, ratificou a entrada da Finlândia na NATO, mas continua a retardar a da Suécia.
Depois não se admirem de o fantasma voltar mesmo. Quem avisa...
*Professor universitário de Ciência Política