O regular funcionamento das instituições
Nos últimos dias a propósito da crise política, que envolveu vários membros do Governo, houve quem tivesse feito a comparação inevitável com o caso do Governo do então primeiro-ministro Pedro Santana Lopes. Andou bem o presidente Marcelo Rebelo de Sousa ao deixar claro que não pretendia utilizar a bomba atómica da dissolução parlamentar. Estamos perante situações constitucionais diferentes.
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No caso do Governo Santana Lopes, estávamos perante uma situação que não assentava numa solução de legitimidade política do chefe do Governo. Existia uma maioria parlamentar, obtida com Durão Barroso, que já não refletia o sentido nacional de identificação política do país real. O presidente Jorge Sampaio dissolveu a Assembleia da República e o país deu-lhe razão, já que elegeu uma maioria do PS.
Hoje temos um Governo cuja maioria parlamentar foi justificada e ampliada em recentes eleições legislativas.
Acabam aqui as coincidências destas duas situações políticas. A entrevista de António Costa, à revista "Visão", deixou o caldo de cultura necessário para o país estar mais atento e para os processos de escrutínio se acelerarem na procura de esqueletos em armários que estão sempre longe do olhar da opinião pública.
Podemos questionar se está em causa o regular funcionamento das instituições democráticas e a resposta poderia ser sim se, de um novo ato eleitoral, saísse um outro resultado. Acontece que o PSD, como partido da Oposição e alternativo, ainda tem muito caminho para fazer e para atuar junto das mais variadas camadas da nossa população.
Agora resta ao primeiro-ministro controlar os danos de reputação, ter um golpe de asa na remodelação governamental e tentar ganhar um novo fôlego que terá de ser, necessariamente, reformista.
Deve estar mais preocupado com Portugal do que com o Partido Socialista. Deve compreender que estamos numa posição económica difícil no quadro europeu, os serviços públicos são cada vez mais frágeis, a população está mais envelhecida e mais pobre, as empresas descapitalizadas e existe um movimento de portas giratórias que precisa de acabar. Não compete ao Governo proteger as suas clientelas e promover as respetivas incompetências.
Precisa, e deve, de ouvir mais a sociedade civil e as universidades e entender que o Mundo contínua a girar. Será o tempo dos melhores poderem prestar um serviço de cidadania ao país e não deixarem outros se servirem do país.
O prazo de garantia do Governo esgotou-se e poderá não haver uma nova oportunidade porque a famosa incubadora continua a ser a mesma, só mudou mesmo foi a família.
*Professor universitário de Ciência Política