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A ideia de aliança tem permitido, ao longo dos tempos, desenvolver políticas e escolher aliados de circunstância. Cada vez mais as oportunidades do momento estão a permitir cumprir aquele velho princípio de Bismarck que para se fazer uma aliança é necessário um cavalo e um cavaleiro. Os tempos atuais da política estão a facilitar esses encontros. Os cavalos aparecem e, com eles, sempre encontramos os cavaleiros necessários para tal.
Estou a utilizar esta figura de retórica porque a ação política, quer seja a interna quer a internacional, está a demonstrar essa factualidade.
Senão vejamos, por exemplo no plano interno, apesar do PSD ter ganho umas eleições sem obter maioria absoluta não conseguiu governar porque a maioria de Esquerda se impôs na aritmética parlamentar formando a chamada geringonça. Certo é que, depois disso, o país foi duas vezes a votos e confirmou a opção pelo PS numa solução onde a aliança já não foi necessária porque os cavalos tinham-se transformado em burros.
No plano internacional assistimos, na vizinha Espanha, à formação de uma eventual geringonça aplicando os mesmos princípios, ainda que de uma forma muito mais complicada. Aqui os cavalos que se vão associar ao PSOE são de raças muito diferenciadas e com genéticas extremamente complexas. Aliás, a posição de alguns partidos políticos face à ideia de Estado espanhol, inevitavelmente, vai contribuir para um prolongamento desta indefinição institucional. Parece-me que, em política, não pode valer tudo e o sentido do voto não pode ser substituído por uma fórmula meramente matemática que divide a Direita da Esquerda.
Sendo certo que não existem maiorias bacteriologicamente puras também não existem maiorias imaculadas nos seus princípios. A Espanha parece que está a chegar ao fim de um ciclo da sua identidade nacional. Juntar interesses tão contraditórios não parece ajudar a constituir uma maioria credível, coerente e estável.
O sentido das alianças não é assim neutro e necessariamente obriga a uma reflexão aos partidos mais moderados.
Em Portugal, o PSD tentou ganhar alguma iniciativa política com as suas propostas fiscais obrigando o Governo a reagir com expressão e liderando a Oposição como é sua obrigação.
Esta situação mostrou que o PSD deve aproveitar esta oportunidade para deixar claro quais poderão ser as suas alianças. O exemplo espanhol deixa evidente que é preciso ter um discurso político diferenciador face à extrema-direita e isso só se consegue assumindo a iniciativa política e tendo capacidade de mobilizar a sociedade civil. Esperemos os próximos tempos orçamentais porque, como dizia alguém, em política o que parece é.