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A Jornada Mundial da Juventude realizada, recentemente, em Lisboa, permite algumas conclusões. A primeira, de certa forma, uma ideia de reconciliação da Igreja com a necessária mobilização dos seus crentes. O Papa deixou claro que não quer funcionários nem a Igreja Católica transformada numa alfândega que define quem tem ou não direito a estar no seu interior. Nesta Igreja todos podem e devem estar presentes, isto é, aqueles que pensam de uma maneira diferente, aqueles que sentem a sua orientação sexual de uma forma inclusiva, aqueles que querem voltar à casa.
Deste modo, o Papa Francisco deixou claros vários desafios. O mais importante talvez seja o de enfrentar os fantasmas do passado, compreender os problemas do presente e preparar os tempos do futuro. O futuro que vai dividir a Igreja entre os mais conservadores que acreditam que a mensagem do Evangelho está datada e aqueles que consideram que os dias obrigam a adaptar essa mensagem aos novos tempos e a permitir que a sua evolução seja possível na tal onda do que definia como o “surf do amor”.
A Igreja portuguesa tem aqui uma oportunidade de introduzir um novo tempo de fé e de evangelização, atualizando o seu discurso nas homilias da missa e trazendo para o meio da Igreja muita gente que acredita na mensagem e está solidária com o sentido de misericórdia que deve orientar as vidas.
A mensagem do Papa Francisco foi aberta e humanista, não esqueceu as mulheres e privilegiou os jovens e os problemas do nosso complexo tempo. Tentou destruir preconceitos e acabar com mitos que vão prejudicando muitas pessoas.
A nova geração de clérigos, que esta JMJ permitiu que surgisse, deixa também uma ideia de otimismo sobre o futuro da Igreja portuguesa e de uma articulação entre gerações. Aqui, o nome de D. Rui Valério, como novo patriarca de Lisboa, significa que o Papa está atento as idiossincrasias da Igreja portuguesa sem esquecer D. Américo Aguiar, que será de certeza uma referência nesse novo futuro ao lado de D. Tolentino de Mendonça.
Um futuro onde a tal economia de Francisco deve ser a bússola que nos ajude a ser mais solidários com o outro, principalmente com os idosos, os deficientes ou os jovens.
Daí que a preocupação de muitos com a JMJ e com a afirmação de que o Estado é laico é um sinal de que algo está a mudar na sociedade portuguesa. De certeza que D. Manuel Clemente não pediu a ninguém para ter o seu nome na famosa ponte.
O Estado é laico e a questão religiosa está há muito tempo resolvida em Portugal. Mário Soares compreendeu, em 1974, isso muito bem, porque o Estado não é neutro.
Obrigado, Francisco. Esperemos que compreendam o teu exemplo porque não temos medo.