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A vitória da AD, nas eleições regionais dos Açores, veio alterar o desenvolvimento da campanha eleitoral para o governo da República. Com efeito, ao obter uma maioria relativa para o Parlamento regional, a AD ficou a quatro deputados de uma maioria absoluta, venceu de forma clara o Partido Socialista.
A partir daqui cria-se um buraco negro com muitas linhas vermelhas à mistura e cujo impacto pode ser flagrante nas eleições nacionais. Quem vai ser responsável para deixar a AD governar? O PS ou o Chega?
O PS já veio dizer que irá votar contra o novo governo de Bolieiro. O argumento fazendo sentido não deixa de ser curioso. A Aliança Democrática que procure na Direita o número de deputados necessário para assegurar a governabilidade da região autónoma. O Partido Socialista considera que não deve abrir um processo negocial que permita ao governo de Bolieiro poder iniciar funções. Alega que a Iniciativa Liberal e o Chega, que com o PS fizeram uma coligação negativa para derrubar o governo, devem agora ser empurrados para apoiarem uma nova solução governativa.
O Chega já disse, neste processo, tudo e o seu contrário. Só viabiliza o governo regional se entrar para ele, que pondera abster-se na sequência de um acordo de incidência parlamentar ou mesmo votar contra.
A AD parece estar cautelosa e pouco disponível em embarcar em atitudes precipitadas com o Chega. Esta atitude parece estar a merecer a simpatia e a curiosidade dos portugueses para as eleições legislativas de 10 de março. Algo que provavelmente as próximas sondagens podem vir a esclarecer.
A alteração do arco do poder no sistema político começou com a geringonça, ainda que aí a incidência foi só no foro parlamentar. Álvaro Cunhal dizia que a existência de uma maioria de Esquerda poderia proporcionar outras soluções. Mário Soares sempre resistiu a essa tentação. Quando António Costa decidiu transformar uma derrota numa solução governativa de maioria de Esquerda, com evidentes contradições e cujo resultado todos conhecemos, abriu a porta a uma certa turbulência política.
Agora temos de passar por este “choque político”, à Direita, para ultrapassar este limbo ideológico. Ainda ninguém testou um partido de protesto de extrema-direita que necessita, desesperadamente, de ser governo porque também ele tem as suas clientelas que precisa de preservar.
Se a AD ganhar as eleições poderá tentar fazer um governo com o apoio da Iniciativa Liberal, para quem estas eleições também são uma prova de vida. Se conseguir não deixará de ser um exercício perverso ver atuar, na Assembleia da República, a Oposição, liderada pelo PS, e os demais partidos de protesto, incluindo o Chega.
Vamos então à conquista do voto útil que é quem vai decidir tudo.