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A propósito de uma operação da PSP no Martim Moniz, em Lisboa, levantaram-se imensas vozes exclamando uns a favor e outros contra a mesma.
O Governo, preocupado com a tentação securitária do Chega, tenta dar um sinal de que quer ordem e autoridade nas ruas. A ideia de que Portugal é um país seguro e onde nada de mau pode acontecer é a imagem que Luís Montenegro pretender afirmar.
Do outro lado, uma esquerda populista procura também dar uma ideia desta violência como fascizante e, vai daí, abre críticas à atitude do Governo e da Polícia.
Aliás, um conjunto respeitável de personalidades da vida política e social elaborou um abaixo-assinado criticando o comportamento da PSP, porque seria ofensivo dos direitos, liberdades e garantias que a Constituição consagra. Ao mesmo tempo, um conjunto de médicos, com a respetiva Ordem, veio já dizer que não vai deixar de atender os imigrantes no SNS sempre que tal se justifique. Estas atitudes só vêm deitar gasolina para a fogueira.
No meio de tudo isto, ficam todos os imigrantes. Os que cá estão por bem e com vontade de trabalhar a favor de Portugal, pagando os seus impostos e fazendo descontos para a Segurança Social, e os outros, muito poucos felizmente, cujos propósitos ninguém aprecia e não pretende.
Neste caldo de cultura que junta hindus e islâmicos, chineses e africanos, começa a medrar na sociedade portuguesa a ideia de que somos todos racistas e com tendências de xenofobia. Parece-me que o radicalismo desta análise não ajuda ninguém.
Por um lado, Portugal precisa dos imigrantes para substituir a sua força de trabalho, principalmente nos trabalhos menos nobres, e também para ajudar a rejuvenescer a nossa sociedade.
A sociedade portuguesa, tal como a europeia, está a lidar mal com a questão dos imigrantes. Acusados de algum laxismo, os governos centristas, de direita ou de esquerda, correm o risco de ser ultrapassados pelos extremismos populistas que sempre procuram agradar às suas radicais clientelas. O que resta então fazer depois do impulso crítico que Donald Trump permitiu ou do que levou à vitória do Brexit?
A resposta será definir políticas públicas que permitam desenvolver, dentro do espaço da União Europeia, uma verdadeira estratégia para a imigração acompanhada pelas necessárias políticas demográficas. Os portugueses compreendem como ninguém o que é ter uma diáspora em todo o Mundo. Desde o final do século XV que conhecemos os cinco continentes e ainda na segunda metade do século XX deixamos na Europa um traço da nossa emigração.
A nossa tolerância tem de começar dentro de casa. Tolerância não quer dizer laxismo ou negligência, assim como autoridade não quer dizer autoritarismo.
Boas festas.