Terminaram as eleições autárquicas e durante a noite, mais longa do que habitual, soubemos os resultados. Todos ganharam mas ninguém pode escamotear que existe, no meio da sala, um problema.
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Os portugueses estão a ficar fartos de uma maneira de fazer política e acabaram por penalizar certos protagonistas.
O primeiro vencedor da noite foi a abstenção. Os números da abstenção, os segundos maiores de sempre, implicam que o poder político reflita sobre os mesmos. Estamos a falar das eleições onde todos conhecem os candidatos devido à proximidade que estas eleições motivam.
A seguir os independentes, afirmaram-se no plano eleitoral e já, não é só a cidade do Porto, a ser exemplo.
A noite evidenciou alguns derrotados vitoriosos. Como de costume, a CDU, que perde algumas câmaras emblemáticas, como Loures, pese embora ter conseguido segurar Setúbal e Évora. Ganhou, contudo, um novo papel junto do PS para viabilizar em 2022 o Orçamento.
Os pequenos partidos, cada um à sua maneira, Chega, Bloco, CDS e IL vieram dizer que conseguiram isto e aquilo.
Finalmente, o PS que perde Lisboa, Coimbra, Funchal e Barcelos autarquias onde se empenhou de modo muito particular. Esse empenho veio, ainda, a ser mais desenhado com o papel do primeiro-ministro na campanha. Nunca se tinha assistido a tanta participação de um chefe de Governo distribuindo promessas à direita e à esquerda.
Ao mesmo tempo, o PSD consegue um resultado que surpreendeu todos a começar pelos vencedores. Ganharam-se autarquias como no Alentejo, Coimbra ou Lisboa, aqui muito pelo trabalho de Carlos Moedas, mas perderam-se outras por manifesta precipitação de setores do partido. Basta ver a Guarda ou Castanheira de Pera. Estas eleições vieram também mostrar como é prematura a morte política do líder do PSD. O dr. Rui Rio mostrou que é muito melhor num ambiente adverso e de sucessivo combate como estas eleições mostraram.
Em último lugar, as sondagens. A tentativa de manipular a opinião pública, através de sondagens eleitorais, mostrou, mais uma vez, como é uma arma sem sentido. Aliás, já não é a primeira vez que assistimos a este tipo de erros. Que o diga o próprio Rui Rio, que o sentiu, na primeira vez, quando se candidatou a autarca.
A forma de fazer política, que noutros tempos ficou conhecida como "o bacalhau a pataco", não conseguiu ludibriar os portugueses.
Estes fizeram as suas escolhas, enviaram sinais ao PS e um alerta ao PSD. Contam com ele para ser alternativa para governar Portugal.
Da minha parte tenho uma contrição a fazer. Ainda bem que o PSD não alienou o voto urbano.
Professor universitário de Ciência Política