<em>Esta é a madrugada que eu<br/> esperava<br/> O dia inicial inteiro e limpo<br/> Onde emergimos da noite e<br/> do silêncio<br/> E livres habitamos a substância do tempo</em><em>(Sophia)</em>
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O 25 de Abril de 1974 não ficaria completo sem o 25 de novembro de 1975. Entre estas duas datas, estão dois documentos diferentes que mostram a importância dos valores democráticos. Falamos do I e do II Pacto MFA-Partidos.
Sem o MFA não haveria a liberdade, mas sem os partidos não existiria o regime democrático. Daí que devemos saber enquadrar todo o ciclo que se denominou PREC - Processo Revolucionário em Curso -, que começa em 28 de setembro, se concretiza em 11 de março de 1975 e se prolongará até 25 de novembro.
Nesse período, vivemos de tudo e fugimos de uma guerra civil onde ainda são alguns os nomes que marcam esse tempo.
Do lado militar e, desde logo, Otelo Saraiva de Carvalho, personagem a quem devemos a liderança das operações naquela madrugada, mas que depois se perdeu nos labirintos da revolução.
Otelo não teria existido sem Salgueiro Maia que, naquela manhã , foi decisivo para a vitória. Precisou de Melo Antunes, o ideólogo disfarçado, e de Vítor Alves, o diplomata dos equilíbrios. Não teria sido protagonista sem o truculento Vasco Lourenço. Contudo, a nossa imagem de Otelo acaba em novembro, graças à determinação e o empenho leal de Jaime Neves. Tudo isto não ficaria completo sem um nome: António Ramalho Eanes, o militar que devolveu a cidadania aos civis.
Certo é que o Portugal de Abril começou com Spínola e Costa Gomes garantes da construção da nova ordem, enquanto se destruía a antiga às mãos de Vasco, o Gonçalves.
Portugal deve, acima de tudo, a outorga da liberdade aos militares. Contudo, a construção desta fica a dever-se a muitos civis, como Mário Soares ou Francisco Sá Carneiro. Ambos souberam defender os ideais da liberdade, da igualdade e da solidariedade. Ao criarem dois partidos que souberam, durante muito tempo, interpretar o sentimento generoso do povo português.
Algumas destas personalidades já nos deixaram. O tempo tem sabido ser sereno conselheiro, ao discurso tribal precisamos de responder com tolerância e a compreensão de que, quase sempre, a história se escreve por quem ganha a última batalha.
Otelo, felizmente, não ganhou a ultima batalha.
Hoje, Portugal no regular funcionamento das suas instituições, é uma democracia plena, quando usufruímos do mais longo período de liberdade que os portugueses estão a viver.
Independentemente das sequelas, e são muitas, que ainda hoje vivemos resultantes daqueles tempos agitados do PREC, podemos dizer 25 de Abril sempre!
Professor Universitário de Ciência Política