Corpo do artigo
São muitas e de variada ordem as razões que seria capaz de enumerar para suportar este título. Mas hoje a atenção é para uma em especial: a criação do Centro Nacional de Protonterapia, com base numa pareceria entre esta unidade hospitalar, o Governo português e a Fundação Amancio Ortega, cujo protocolo foi assinado na passada semana, em cerimónia presidida pelo primeiro-ministro.
É, a todos os títulos, um facto notável. Pelos montantes em causa, mais de 100 milhões de euros. Pelo caráter state-of-the-art da tecnologia envolvida, ao nível do mais avançado que está disponível em termos mundiais nas terapias de combate à doença oncológica. Pelo inédito, em termos de dimensão, no mecenato nesta área. Pelo exemplo e consequente potencial de repetição no amplo ecossistema nacional da saúde.
Julgo que esta ação, mais do que o corolário de um percurso lúcido e bem estruturado que o IPO Porto tem vindo a percorrer, é sobretudo o princípio de uma nova etapa de voos muito altos em benefício de nós todos, na linha da sua aposta clara e robusta na investigação clínica, na bem-sucedida integração nas redes mundiais de referência, ou no compromisso com a investigação biomédica e a sua translação para a prática clínica, materializada no Comprehensive
Cancer Centre - Porto, que integra com o Instituto de Investigação e Inovação em Saúde (i3S).
Há, também, nesta história bonita, um elemento que merece ser sublinhado e valorizado: este desfecho só foi possível porque, em tempo recorde, todos, desde a administração do IPO Porto até à Fundação doadora, passando pelas diferentes entidades da nossa administração pública que tinham papel decisivo no processo - e todos sabemos o quão, tantas vezes, esta componente falha clamorosamente -, souberam concertar-se estratégica e operacionalmente e assim estar à altura da dimensão deste sonho, concretizando-o, já nos limites do impossível. É deste modo que se faz a diferença, neste caso com valor acrescido porque tem os doentes realmente no centro.
E aqui importa reconhecer o que de distintivo e único o Instituto Português de Oncologia do Porto, que no passado abril completou 50 anos, tem vindo a construir e, em larga medida, está consolidado. Sim, desde sempre que esta entidade tem apostado numa cultura de serviço, orientada à qualidade, à eficiência e, de modo muito bem conseguido, ao doente, materializada e suportada num quadro de recursos humanos de elevado empenho e desempenho, quer clínico, quer humano. Uma palavra é devida à clarividência, ao arrojo e a determinação dos seus dirigentes, atuais e passados, orientados pelos padrões mais exigentes em termos do que se faz nas referências mundiais nesta área.
Uns e outros são credores de, num contexto muitas das vezes hostil e quase sempre força de bloqueio - a administração pública -, terem sabido estabelecer a cultura já referida que, diria, é o maior ativo da instituição porque, independentemente das circunstâncias, vai continuar a alavancar a melhoria contínua e a permanente superação, tão acarinhadas pelo reconhecimento valioso daqueles para quem todos os dias trabalham.
Os que conheço que tiveram ou têm, direta ou indiretamente, beneficiado dos cuidados prestado pelo IPO Porto são unânimes em não lhe regatear rasgados elogios e, em particular, aos que nela trabalham. Pode ser que exista outra realidade como esta no panorama do nosso Sistema Nacional de Saúde, eu não conheço.