Paradoxalmente, poderá ser agora que se devem/podem tomar grandes decisões na Saúde!
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Paradoxalmente, poderá ser agora que se devem/podem tomar grandes decisões na Saúde! As ondas de choque do terramoto eleitoral do passado dia 18 ainda não pararam e vai levar algum tempo até que tal aconteça. Boas para uns, menos boas para outros, terão, pelo menos, a vantagem de nos obrigarem a refletir sobre temas que normalmente ficam fora do radar, porque os tomamos por estabilizados ou porque os consideramos inacessíveis.
Faço parte dos que há muito defendem que um consenso alargado na área da saúde e em particular na gestão do Serviço Nacional de Saúde é inevitável, se o quisermos manter e, desejavelmente, reforçar. Tema que, manifesta e desgraçadamente, tem sido acantonado na categoria dos inacessíveis.
Isto porque decisões ousadas e corajosas, nem sempre fáceis ou populares, há muito que vão sendo adiadas em face do temor da utilização das mesmas como arma de arremesso na guerrilha argumentativa, nem sempre razoável, da dialética político-partidária. Há uma enorme força de bloqueio à modernização e ao desenvolvimento do setor que resulta de, em larga medida, entre os, até aqui, dois grandes partidos que têm alternado a responsabilidade por esta pasta, os argumentos e as bandeiras irem mudando de porta-voz em função de quem, no momento, está no Governo ou na oposição.
E assim, vamos adiando a possibilidade de definitivamente assegurar que as lideranças dos grandes hospitais e de outras estruturas sejam escolhidas apenas por critérios de mérito, que as decisões relacionadas com as PPS (parcerias público-privadas) sejam exclusivamente baseadas na racionalidade da gestão ou que finalmente consigamos definir uma estratégia nacional para a transformação digital da saúde, para citar apenas alguns exemplos.
Mas será que agora, em face deste grande abalo nas fundações de um status quo que tínhamos por garantido, não se poderá construir uma oportunidade para serem tomadas, em consenso alargado, um conjunto de decisões que há menos de um mês classificaríamos como inacessíveis, diria mesmo utópicas?
Não será legítimo que possamos considerar e, se me permitem, sonhar, com um amplo, arrojado, corajoso e patriótico acordo entre o PSD e o PS para as reformas de que a saúde tanto precisa?
Os temas que reclamam ação, urgente em boa parte dos mesmos, estão bem inventariados por aqueles que em ambos os partidos têm, ou têm tido, responsabilidades nesta área, como estão bem pensados - com eventuais divergências de pormenor que qualquer conversa séria e bem-intencionada consegue facilmente sanar - os caminhos para a sua resolução.
Haja a coragem de assumir esta disponibilidade e os que, em ambos os lados, dela forem responsáveis serão, não tenho qualquer dúvida, heróis merecedores do nosso reconhecimento coletivo, não apenas nas atuais como nas próximas gerações de portugueses. Mais, estou certo, e julgo que nisso muita e boa gente me acompanhará, que seria assim possível iniciar uma nova era em que a saúde no nosso país, em particular o Serviço Nacional de Saúde, passaria a ser gerida exclusivamente por critérios de racionalidade e de bom senso, guiados pelo estado da arte da ciência e da tecnologia, com o foco exclusivo no cliente, ou seja, no doente e no cidadão.
Façam isto às claras e de forma transparente, e quero ver onde está o aprendiz de populista-demagogo que atira a primeira pedra!