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Esta semana fez 40 anos que José Maria Pedroto nos deixou quando ainda havia muito a esperar do seu conhecimento e talento. Conheci-o, ainda adolescente, e aprendi com ele os primeiros princípios do que é a liderança, a coragem e a determinação.
Fiz parte de uma geração que se tinha habituado a não ganhar nada, a não ser, com ele, em 1968, uma Taça de Portugal. Naquela altura na minha escola primária, como em muitas outras, as crianças eram mais do Benfica de Eusébio e de outras vedetas. Era um tempo em que o F. C. Porto ainda não compreendia que o seu ADN, para se formar, tinha de sofrer e de se sacrificar.
Pedroto procurou explicar isso a Afonso Pinto de Magalhães como, mais tarde, o fez a Américo de Sá. Contudo, foi Jorge Nuno Pinto da Costa que percebeu o contributo de José Maria Pedroto para o ADN do F. C. Porto. Partilhou com ele o banco de suplentes, ajudou ali a forjar o combate aos roubos de igreja, às arbitragens que não respeitavam o clube e aos tais trinta metros que faltavam ao futebol português.
Pedroto explicou como se podia jogar contra equipas inglesas, fosse no Vitória de Setúbal ou no Boavista, como também na seleção nacional, naquele famoso 0-0, em Wembley, que marcou uma geração de futebolistas que começou a aprender o que era ganhar.
O legado de Pedroto, no futebol português, é um legado que vai muito para além do F. C. Porto. Quer como jogador quer como treinador, Pedroto deixou uma marca e ajudou a fundar uma escola de treinadores portugueses que, neste século, o Mundo do futebol se habitou a admirar.
Desde a conquista daquele título, em 1977/78, tudo mudou, em Portugal, no futebol. Acabou a hegemonia de uns para começarem as vitórias de outros. O Norte afirmou-se, desde logo, como o principal domínio da expressão de clubes na primeira liga que veio substituir o campeonato nacional.
Pedroto criou uma escola de treinadores, em Portugal, que hoje dá cartas em todo o Mundo, mas cuja academia começou fundamentalmente no F. C. Porto. Mourinho, André Villas-Boas, Vítor Pereira ou Sérgio Conceição são o produto acabado dessa escola, assim como é o caso de outros antigos atletas por ele treinados. Jaime Pacheco é um bom exemplo como seu jogador descoberto no Aliados de Lordelo e, mais tarde, campeão nacional como treinador do Boavista.
Ao revolucionar a maneira de ver e sentir o futebol Pedroto contribuiu para dar dimensão e estrutura profissional, desde logo, no modelo de escolha de equipas técnicas, preocupações sociais com os atletas, atenção à formação, valorização da pesquisa por talento e, fundamentalmente, como um defensor dos direitos humanos. Foi isso que fez, em 1973, no Vitória de Setúbal e, mais tarde, quando aceitou ser deputado à Assembleia Constituinte pelo PPD ou ajudou a fundar o Sindicato dos Treinadores.
O seu exemplo ainda hoje se sente no Estádio do Dragão.