José Maria Pedroto desapareceu a 7 de janeiro de 1985. Nesse dia todos nós perdemos alguém que tinha sabido representar um clube e dar esperança a uma cidade marcando-a com um ADN de respeito, responsabilidade e resiliência.
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Conheci-o muito jovem e com ele aprendi a minha primeira imagem de liderança.
Alguém que soube sair e voltar a um clube, para interromper um jejum de 19 anos sem títulos, numa altura em que o F. C. Porto não contava para nada.
Foi ele que ajudou a fundar aquilo que se tornou um traço universal do caráter e da mística do clube, independentemente de toda a crítica que quotidianamente continuamos a sofrer.
Com o apoio de Jorge Nuno Pinto da Costa criou as bases que permitiram jogar e ganhar finais europeias, fazer ciclos de vitórias em campeonatos e projetar o clube no Mundo.
Deixou-nos há quase quarenta anos, mas ficou o seu legado e o exemplo de saber fazer e construir gerações de campeões. Eles estão aí e transformaram-se em símbolos vivos do seu exemplo. Inovou trazendo a academia para o meio do futebol. Desenvolveu metodologias de treino pouco conhecidas entre nós. Alertou-nos para os roubos de igreja e para as arbitragens tendenciosas.?Avisou sobre os que só pretendem dividir para reinar.
Hoje, ainda há quem não queira compreender o que significa o F. C. Porto. Esses são aqueles que não aprenderam nada nas últimas cinco décadas. Talvez seja porque nasceram depois de 1985 e não conheceram a árvore onde estão as raízes deste Porto campeão.
Pinto da Costa foi e tem sido também o criador e intérprete deste novo F. C. Porto. O clube que se identifica com uma cidade que sofre e ama a liberdade, luta por ela e resiste contra tudo e contra todos.
Na Câmara Municipal do Porto, recentemente, foi decidido, por iniciativa do Partido Socialista, levantar um busto de homenagem ao legado de José Maria Pedroto. Homenagem tardia mas desejada e justa. Tenho pena que o PSD, partido pelo qual Pedroto foi candidato à Assembleia Constituinte, em 1975, não tenha contraposto a ideia de uma estátua. Sim, porque um busto é muito pouco pelo que ele fez por esta cidade e pelo nosso clube. Fica aqui o meu desafio ao F. C. Porto, aos seus sócios, entre os quais me incluo, de criar as condições para que o busto seja substituído por uma estátua que preserve a memória de alguém que ajudou muitas gerações a sonhar e a saber o que é ser do Porto.
Afinal, o Porto é uma nação e como dizia o nosso Almeida Garrett sempre somos a terra onde podemos trocar os bês pelos vês, mas onde há muito pouco quem troque a honra pela infâmia e a liberdade pela servidão.
Professor universitário de Ciência Política