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Num tempo em que a sociedade portuguesa mergulha num rio de interrogações sobre os seus sistemas político e judicial e na perigosa vertigem de uma generalizada suspeição sobre as instituições que sustentam o seu desenvolvimento, faz bem a frescura do regresso às origens e àquilo a que podemos chamar o “país real”. Partilho, por isso, impressões sobre o concelho do Norte com menos habitantes. Penedono tem cerca de 2700 residentes, situa-se na sub-região do Douro e a sua economia assenta no setor primário e no turismo. Visitar Penedono é encontrar uma ruralidade em equilíbrio com a natureza, num território onde os tempos medievais são preservados em pedras de casas e calçadas à sombra do majestoso castelo, bem como em costumes e práticas da população que ali tem raízes.
Sexta-feira passada, foi inaugurada mais uma edição do Mercado Magriço, uma feira da castanha e de produtos autóctones que honra a memória do herói local, Álvaro Gonçalves Coutinho, um dos Doze de Inglaterra imortalizados por Luís de Camões. É um pequeno certame, organizado pela Câmara, onde a economia local e as associações culturais e desportivas estão presentes. Estão lá muitos produtos da terra, alguns curiosos e difíceis de encontrar nos centros urbanos. Ali estão muito odores e sabores cujo reconhecimento desafia a nossa memória e o nosso discernimento. Mas está também uma população em paz consigo mesma que encara a vida com uma sabedoria antiga, sem virar as costas a um desejo de futuro. Uma população orgulhosa da história, brilhantemente representada pela Associação Cultural da Hoste do Magriço, e solidária no modo como se organiza.
Penedono é também um exemplo de aplicação de fundos europeus. Durante o quadro que agora finda, o conjunto de investimentos apoiados totalizou quase cinco milhões de euros, com um fundo do Norte 2020 de quase quatro milhões. A aplicação é de praticamente 100% e os investimentos incidiram, e bem, sobre a eficiência energética, a inovação social, os percursos pedonais e cicláveis, e a reabilitação do património.
Em Penedono não há a crispação política e social que mina o país e contribui para a corrosão das nossas instituições. A sábia moderação sente-se nos pequenos e nos grandes gestos da referida solidariedade e evita extremismos. Num momento em que o país político se prepara para uma batalha que muito influenciará os próximos anos, importa que, em nome e honra de muitos outros pequenos concelhos, se tenha presente este exemplo de moderação e bom senso. Certamente que o tempo não é o do romântico cavaleiresco do Magriço, mas deve ser o da temperança e da solidariedade.