Corpo do artigo
Voltemos aos telemóveis nas escolas. Na linha do que já foi implementado em outros países, o Governo português recomendou a proibição do uso de telemóveis no recreio e nas salas de aulas do 1.o e 2.o ciclos.
A medida tem sido aplaudida pela generalidade da comunidade educativa e pela maioria das famílias e percebe-se bem a razão. Os smartphones chegam cada vez mais cedo às mãos das crianças e, diga-se sem rodeios, são também um instrumento fácil para os encarregados de educação manterem os mais pequenos entretidos. É comum verificá-lo num restaurante, numa casa de amigos e noutros locais. Não há dúvidas quanto ao exagero do uso. Mas mais grave, bastante mais grave, é o uso que as crianças fazem de uma ferramenta que já faz parte delas.
Estima-se que 95% das crianças portuguesas com 10 ou mais anos têm smartphone. 34% abaixo dessa idade também têm. Entende-se, portanto, a recomendação do Governo, mesmo que tenha sido feita na véspera do arranque do ano escolar, tornando o assunto mediático num momento em que o problema da Educação é bem mais alargado do que o uso dos telefones.
Esperemos pelos resultados. O ministro da Educação sustenta o seu conselho com base em estudos internacionais, mas há já escolas em Portugal que proíbem o smartphone. Teria sido muito interessante que o Ministério de Educação revelasse detalhadamente o sucesso desses projetos.
Se a recomendação obrigar a que os auxiliares da ação educativa (que já acumulam funções que a lei não prevê) sejam os polícias dos telemóveis nos intervalos, é fácil antever como terminará a boa intenção.
A escola é um lugar de aprendizagem e será o local privilegiado para ensinar as crianças a utilizarem os equipamentos em segurança. E já agora ajudar a que estes ensinamentos também cheguem aos pais. Há muitos que bem precisam.