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Ao contrário do que defendem alguns, o país precisa de imigrantes. Não apenas porque são jovens, não apenas porque contribuem para o desenvolvimento económico do país, mas também porque a diversidade faz bem à saúde dos povos!
A semana passada foi muito má. Tivemos uma manifestação agressiva contra pessoas concretas. Não uma manifestação contra políticas ou em defesa de direitos, mas contra pessoas. Absurdamente agressiva e violenta contra os migrantes que escolheram Portugal para viver, reuniu umas centenas de manifestantes que parte da Comunicação Social transformou em milhares.
Ainda durante a semana, ouvimos e lemos notícias sobre alguns imigrantes sem-abrigo, à procura de trabalho, que não foram acolhidos pelos serviços da Câmara Municipal de Lisboa, por não terem documentos de autorização de residência, por estarem em situação irregular. Os hospitais, as escolas e as instituições de ação social seguem, há muito, uma prática: primeiro estão as pessoas, tratam-se ou salvam-se, acolhem-se e integram-se, depois os papéis e a burocracia. Será que se está a perder esta orientação humanista?
Como se não fosse suficiente, ouvimos o anúncio, pelo Governo, de criação de uma polícia de estrangeiros, uma polícia especialmente dedicada a vigiar algumas pessoas. Ora, uma coisa é criar corpos especiais de polícia para resolver problemas específicos, como trânsito, fronteiras, escolas, estádios de futebol ou locais de manifestações. Outra, bem diferente, é um corpo especial para policiar certas categorias de pessoas. Atrevo-me a dizer que é uma decisão de duvidoso respeito pela nossa Constituição, uma vez que esta estabelece o princípio geral de igualdade de direitos entre nacionais e estrangeiros, não autorizando qualquer tipo de discriminação em função da nacionalidade que não esteja especificada no seu texto.
Fazem-nos falta políticas e vozes que defendam as pessoas, que promovam a igualdade de direitos e de oportunidades. Vozes que se oponham a derivas autoritárias. Vozes que suportem o ideal de Portugal como país cosmopolita.
O senhor presidente da República habituou-nos a ouvir os seus comentários sobre todas as dimensões da nossa vida. A semana passada teria gostado muito de o ouvir retomar a defesa de uma política de imigração mais humanista. Foi isso que dele ouvimos nas campanhas em que foi eleito. E foi isso que fez quando, há bem pouco tempo, defendeu que a suspensão da manifestação de interesse para obter autorização de residência pelos imigrantes fosse provisória e, portanto, retomada a prazo. Espero voltar a ouvi-lo sobre este assunto.