A páginas tantas do fantástico livro de Italo Calvino "As cidades invisíveis", Marco Polo, o explorador, entabula conversa com Kublai Khan, o homem mais poderoso da Terra. Polo descreve, pedra a pedra, uma ponte. O imperador mongol interrompe-o: "Mas qual é a pedra que sustém a ponte?". "A ponte não é sustida por esta ou aquela pedra, mas sim pela linha do arco que elas formam", diz-lhe Polo. "Porque me falas das pedras? É só o arco que me importa", atira Khan, ao que o explorador responde: "Sem pedras não há arco".
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Lembrei-me disto quando, no passado domingo, a Seleção de futsal revalidou o título de campeã da Europa. Jorge Braz, o selecionador, é o nosso Marco Polo. Os jogadores são as pedras: rijas, sim, mas antes de mais sabedoras do lugar que ocupam e da tarefa que a cada momento lhes cabe. A ponte é a vitória - um arco fantástico cuja existência depende inteiramente das pedras que a sustêm. "Sem pedras não há arco".
Para erguer a ponte e suster o arco foram precisos anos de exploração e dedicação, de amor à casa e à causa. A tarefa nunca está acabada - é preciso tratar da ponte, sob pena de ela soçobrar, o que só se alcança olhando com minúcia para a vitalidade de cada uma das pedras. Foi, é e será necessária muita paciência e ainda mais competência para que tudo bata certo no momento certo.
Se não tivermos a sensatez de aprender a lição da Seleção, a rapidez dos dias apagará a festa e voltará a enrugar a alma de um país carregado de problemas e com futuro incerto. Não há uma só razão para que abdiquemos de ser um Portugal à Braz, arrojado timoneiro de construtores de pontes lindíssimas, é certo, mas, antes de mais, conhecedor profundo de cada uma das pedras que a compõem.