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O Governo lançou uma campanha policial com o objetivo proclamado de combater a perceção de insegurança dos cidadãos. Tenho as maiores dúvidas sobre esta campanha, tanto pelo modo como está a ser divulgada e pelas formas escolhidas para a concretizar, como pelas suas eventuais consequências.
Vejamos. Segundo o Ministério da Administração Interna, o foco da operação era o combate à criminalidade violenta, ao tráfico de droga, à imigração ilegal, ao tráfico de seres humanos, aos abusos laborais e a atividades económicas ilícitas. No passado domingo, os jornais davam conta de 47 detenções durante o fim de semana, em resultado das rusgas efetuadas. Destas detenções, 17 foram por condução sob efeito de álcool, nove por falta de carta de condução, sete por tráfico de estupefacientes, uma por posse de arma, etc. Isto realmente parece-se mais com uma operação da Páscoa da GNR do que com uma campanha especial. Podemos perguntar, onde está a criminalidade violenta? Afinal o que está o Governo a combater?
Tudo isto ocorreu na mesma semana em que ouvimos o senhor presidente da República dizer, no estrangeiro, que Portugal é um país estável na política como na economia, e seguro na vida do dia a dia. Portugal, sublinhou o presidente, é mesmo um dos países mais seguros do Mundo.
Será que para manter Portugal seguro e apaziguar as perceções de insegurança dos cidadãos precisamos de imagens de polícias armados como se estivéssemos em guerra? O que pensar do anúncio público de rusgas e detenções de imigrantes? Os imigrantes, mesmo sem documentos, não são por isso criminosos!
Estive uns dias na cidade de Xangai, na China, a acompanhar os nossos programas de ensino com universidades chinesas. Fiquei muito impressionada com a quantidade de polícias nas ruas a fazer patrulhamento e vigilância. Mas notei que os polícias não possuíam armas de fogo. Faziam policiamento de proximidade, procurando garantir a segurança dos milhares de pessoas que circulavam apenas com uma presença dissuasora, mas discreta.
Portugal não tem níveis de insegurança que justifiquem a exibição de força e de autoridade a que temos assistido. O exagero e espalhafato das operações policiais relatadas nos meios de comunicação social são de tal forma alarmistas e exageradas que acabarão por ter o efeito contrário ao anunciado. O Governo está, aparentemente, e quero crer que involuntariamente, a inventar a perceção de insegurança que diz querer combater. Isto não pode ser simplesmente considerado ridículo, porque implica o enorme risco de alimentar as perceções de insegurança e de medo dos cidadãos.
O Governo está, aparentemente, e quero crer que involuntariamente, a inventar a perceção de insegurança que diz querer combater.