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Nos tempos que correm poucos são os responsáveis políticos que sabem prestar contas da sua pública gestão. Geralmente, o seu programa eleitoral não chega aos eleitores e costuma ser um catálogo de promessas que nem sempre se cumprem.
A Comunicação Social, preocupada com o sensacionalismo ou com os julgamentos de tabacaria , acaba por contribuir para essa ausência de rigor no escrutínio.
Esta análise reside no facto de, estando a concluir o seu mandato e ao não ter possibilidade de ser reeleito, o atual presidente da Câmara Municipal do Porto, Rui Moreira, decidiu, com mérito, apresentar um conjunto de livros que revelam doze anos de mandato e onde é possível fazer o balanço dessas políticas para a cidade.
Pese embora aparecerem logo uns arautos a fazer críticas, sejamos claros, a iniciativa tem mérito.
Primeiro, permite comparar o que Rui Moreira prometeu e deixou na cidade. Depois, auxilia a definir as políticas públicas autárquicas e prepara uma certa ideia de continuidade e de sustentabilidade das mesmas.
Podemos encontrar ambição no que foi a política cultural, será possível avaliar uma mudança radical para a mobilidade, rever o urbanismo e para quem tiver a ambição de querer governar a cidade, prever e evitar experiências que não funcionaram.
Doze anos de política autárquica marcam sempre um consulado e afirmam uma linha política com a qual os eleitores se identificam.
O Porto precisa de continuar a ser pensado e a congregar vontades que possam ultrapassar ideologias ou conjunturais movimentos políticos.
O movimento independente que Rui Moreira liderou soube trazer à cidade e à política a ideia de que é possível aos cidadãos organizarem-se e liderarem as suas comunidades.
Esse é um alerta que o PSD e o PS não podem esquecer. Se estes dois partidos quiserem persistir numa orientação de distanciamento da sociedade civil, que no Porto é muito forte e integra o ADN do município, impondo candidatos que pouco ou nada sabem da cidade, podem ter uma surpresa no momento certo.
Rui Moreira soube inovar ao fazer este prestar contas do trabalho que realizou nos últimos doze anos.
A cidade merecia isso e ele também percebeu que devia isso ao Porto. O movimento que animou e juntou gente de vários quadrantes políticos e de sensibilidades variadas não pode esquecer esse trabalho.
As próximas eleições autárquicas no Porto não serão só para os partidos, serão, essencialmente, para os cidadãos que gostam e se habituaram a participar na vida da sua cidade.
Vamos aguardar serenamente, então, de que forma o trabalho destes últimos tempos pode continuar e se os partidos aprenderam alguma coisa.