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As virtudes da promoção da saúde e da prevenção da doença, há muito defendidas por muita e boa gente, são tão óbvias e de tão elementar compreensão, que custa a entender porque não têm uma maior tradução nas políticas públicas e na nossa prática quotidiana.
Com efeito, salta à vista, mesmo à mais desarmada, que a implementação de forma eficiente, profissional e estruturada de medidas muito simples, como incentivar o exercício físico, promover uma alimentação correta ou combater o sedentarismo, pode resultar em balanços muito positivos, quer em termos da nossa saúde, quer em termos da fatura que lhe está associada.
Acresce que, uma vez que boa parte das maleitas que nos assaltam decorrem diretamente dos estilos de vida que adotamos, cabe a cada um de nós um papel fundamental na evolução da nossa carga de doença e, consequentemente, no peso dos custos que lhe estão associados, sejam eles por nós suportados ou pela comunidade.
Estaremos todos de acordo em que nos anos mais recentes o tema tem vindo a ganhar destaque e atenção, mas fica a ideia de que mais, mas mesmo muito mais, poderia e deveria ser feito. Porventura, um sobressalto cívico terá que acontecer para que este estado de coisas mude, até porque, acredito, disso dependerá a sustentabilidade de todo este, cada vez mais, complexo ecossistema.
É uma mudança radical: do paradigma vigente, centrado em tratar as consequências, para um outro, preocupado em evitar as causas. Esta disrupção é hoje cada vez mais possível pela feliz conjugação do papel refundador que sempre cabe às novas gerações - e aqui coloco quase todas as minhas fichas - com a utilização inteligente e intensiva das fantásticas novas tecnologias que todos os dias, a um ritmo alucinante, estão à nossa disposição. Mais do que uma prevenção vintage e passiva, o que está ao nosso alcance é a possibilidade de lançar uma dinâmica nova, arrojada e high-tech: uma prevenção 2.0 que, por sua vez, pode ser a base de uma nova saúde.
O foco passará a estar na prevenção e na predição numa orientação à saúde e não à doença. Nesta nova saúde, muito suportada na digitalização e no uso inteligente dos dados, onde o centro é, de facto, o cidadão, toda a gente, ou quase toda a gente, pode estar ligada e monitorizada remotamente - circunstância, verdadeiramente revolucionária, que faz toda a diferença - observando-se, como não poderá deixar de ser, todas as boas regras e precauções relativas à garantia da privacidade.
Nesta nova saúde, que não só está ao nosso alcance como constitui a opção que nos resta para substituir a que hoje temos e que está em crise profunda, será menos, muito menos, hospitalocêntrica e mais em rede, privilegiando os cuidados domiciliários e distribuídos, mantendo nos hospitais só aqueles que realmente necessitam de lá estar.
Esta nova saúde, estruturada na ciência e no conhecimento, mas, ao mesmo tempo, mais humana e mais próxima, vai estender-se e alargar-se a áreas contíguas como a alimentação, o bem-estar, ou o desporto, trazendo novas respostas e soluções onde, naturalmente, ganham grande peso as preocupações com os nossos estilos de vida.