Terminado o processo eleitoral, os militantes e o país olham agora para o futuro do PSD. Depois de 30 de janeiro, no centro e a direita, as coisas nunca mais serão iguais. Nos próximos quatro anos, o CDS não terá representação parlamentar, os liberais e o Chega procuram ocupar esse espaço vazio. O que poderá o PSD fazer para evitar começar a definhar e estacionar na casa dos 20%, deixando a agenda política a outros protagonistas?
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Penso que a resposta está no próprio código genético do partido. Assumir o discurso reformista e integrador evitando o radicalismo de oportunidade que não se identifica com o centro e a direita responsável.
O PSD tem de impor a liderança de uma agenda reformista que permita trazer mudança e inovação ao discurso político e parlamentar. Desde logo estando mais próximo das comunidades e compreender a importância da sociedade civil. O PSD precisa de ter consigo aqueles que com mérito afirmam o elevador social e permitem a criação de riqueza para a nossa economia. Não esquecendo o papel das mulheres e dos jovens, olhar para o envelhecimento, para a transição digital e as alterações climáticas como bandeiras de afirmação política.
Nos próximos quatro anos o PSD precisa de criar as condições para vencer as legislativas após o necessário desgaste do Governo majoritário do PS.
Nesse cenário a escolha do próximo líder não pode ser ligeira numa lógica de chicotada psicológica como no futebol. Temos de compreender que ganhar a Concelhia ou a Distrital não significa ganhar as pessoas. Como partido de poder deve-se assumir de imediato no combate político.
A próxima liderança terá de estar preparada para ser resiliente, solidária, provavelmente ausente do trabalho parlamentar, e pronta para marcar a agenda política.
A maioria absoluta do Partido Socialista terá de ser uma oportunidade para o PSD alterar o seu relacionamento com a sociedade.
Será um momento para o PSD compreender que nos próximos tempos devemos olhar para os novos talentos, assumir as inovações tecnológicas no âmbito interno, compreender a necessidade de sermos tolerantes, estar próximos dos territórios, perceber as políticas de forma transversal e ser transparentes na nossa ação.
Precisamos de novas práticas de relacionamento que não sejam assentes em lógicas geográficas mas também em lógicas de competências e cosmopolitas.
Esse reconciliar com o eleitorado que nos vem penalizando precisa de um PSD integrador e reformista que saiba dar respostas aos anseios dos eleitores do centro e da direita.
Sem precipitações o tempo não é de refundar o PSD, mas antes afirmar o caráter integrador e reformador de um partido que se preocupa com o Estado social, mas também acredita na livre iniciativa na economia.
*Professor universitário de Ciência Política