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O paradoxo da Cultura no Norte é também a sua força. Vemos Cultura em muitas coisas, e profundamente distintas. As gravuras do Côa, uma música barroca para um dos órgãos históricos de Braga, a olaria negra de Bisalhães (Vila Real), um romance de Agustina Bessa-Luís, a língua mirandesa, o castelo roqueiro em Algoso (Vimioso), um espetáculo de dança do Ballet do Douro no Vila Flor (Guimarães), o cinema de Manoel de Oliveira, os caretos de Podence (Macedo de Cavalheiros) ou a romaria da Senhora da Agonia (em Viana), uma das pinturas de Graça Morais ou as ruínas romanas das termas de Chaves.
O génio criativo e o saber fazer distribuíram-se no Norte de modo democrático. São fator de identidade, mas também de coesão territorial e de desenvolvimento económico, se os soubermos reconhecer, cuidar, promover e ativar. Olhando para o mapa de recursos culturais do Norte, parece não haver assimetrias… Claro que as há, mas na capacidade de converter potência em atos, recursos em ativos.
Foi por isto que a CCDR Norte, motivada pelo ecossistema cultural da sua região, mas também pelos municípios e entidades intermunicipais, elegeu a Cultura como “bem essencial” e “prioridade estratégica”. Ela pode ser meio e fim. Meio de coesão social e territorial, de crescimento, atração de pessoas, atividades, investimentos e turismo; fim em si mesmo, como modo de vida e de identidade.
O Plano de Ação para a Cultura Norte 2030 nasceu sob este desígnio, estruturando prioridades e medidas concretas para a próxima década. Conta já com um financiamento dos fundos europeus de 50 milhões de euros, disponibilizados em linhas de apoio, esperando beneficiar de outro tanto ainda em 2025.
Neste contexto, emergiram medidas estruturantes e transformadoras como as redes de centros de criação contemporânea, museus de território e polos arqueológicos, a aposta na aceleração da produção de cinema e as Rotas do Norte: rotas de turismo de património cultural, arte e arquitetura contemporânea, numa feliz parceria com a Entidade Regional de Turismo do Porto e Norte.
Não temos complexos em acreditar que o turismo continua a valer muito a pena. E o cultural, em particular. Faz parte de nós e do nosso potencial. As rotas são, de resto, uma chave para ajudar a resolver os fenómenos gémeos da hiperconcentração e do despovoamento, favorecendo a circulação de turistas por toda a geografia nortenha. Haverá menos assombro nos frescos de uma capela de Alfândega da Fé do que numa grande catedral?
A Cultura pode ser paradoxal, mas também redentora e salvífica.