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Hoje vamos analisar algumas temáticas que atravessam a vida pública portuguesa e as quais devem merecer a nossa atenção.
A primeira é sobre a vulgarização do recurso, na Função Pública e nos transportes, à greve. Falamos de setores que nos preocupam a todos e com um grande impacto na vida das pessoas. Aulas adiadas, consultas médicas atiradas para as calendas ou serviços fechados, assim se comporta a responsabilidade de quem gere, em Portugal, o movimento sindical. Contra o direito à greve? Claro que não porque é um consagrado direito constitucional. A vulgarização desse direito, contudo, está quase a conformar-se como um abuso que começa a deixar indiferentes os cidadãos. Se juntarmos ainda o setor dos transportes, cuja capacidade paralisante todos conhecemos, temos a tempestade perfeita, em regra, a acontecer perto do fim de semana. Esta capacidade reivindicativa é feita à custa dos contribuintes, pois são esses que vão pagar as melhores condições salariais e não usufruem dos respetivos serviços.
Um segundo tema é sobre a reabertura da Catedral de Notre-Dame a que o presidente Macron procurou juntar o brilho de ser à grande e à francesa, fazendo reunir, no meio de uma profunda crise política e económica em França, em Paris, cerca de 50 chefes de Estado e de Governo. Numa altura em que as eleições presidenciais na Roménia tiveram de ser canceladas por intromissão abusiva da rede social TikTok, leia-se Rússia e China, esperamos que o presidente Trump tenha aprendido qualquer coisa com este seu regresso à Europa. Entretanto, a queda de Bashar al-Assad, na Síria, veio tornar ainda mais problemática a situação na região.,
Um terceiro tema tem a ver com as eleições autárquicas e presidenciais que começam a dominar a agenda política portuguesa. Na sua abordagem parece que o PSD não está muito preocupado em condicionar o seu ritmo, reservando-se para um outro tempo do calendário. A ver vamos se a Direita vai conseguir uma frente suficientemente coerente que permita não perder as grandes cidades.
Finalmente, o centenário de Mário Soares reuniu um consenso generalizado sobre o seu relevante papel na construção da democracia portuguesa. Alguns setores da extrema-direita portuguesa evocaram o fantasma da descolonização ou as FP 25 como a nódoa na sua carreira política. Infelizmente, esqueceram-se que, num caso, Mário Soares pouco ou nada pôde fazer e, no outro, procurou sarar a ferida que o seu próprio Governo, de bloco central, tinha aberta.
Mário Soares deixa um legado que só pode orgulhar cada um de nós, principalmente os da minha geração, que com ele aprenderam e depois ajudaram a construir o Portugal que Abril nos trouxe há 50 anos.
Fazem falta políticos como Soares para explicarem aos Venturas que a política ainda é uma coisa muito séria.